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Sol

Coisas

Isto com a garganta inflamada, o tinto arranha, a aguardente arranha. Não há condições!

resolução para o ano novo: afogar-me num litro de água
quem diz água diz outra coisa qualquer: cidra, benzina, acetona, óleo de amêndoas doces, ácido sulfúrico, Chanel nº5, uma coisa assim

como não escrevo nada há muito tempo vou fazer um poema: berloque

quando me calo, é quando mais preciso de falar

A caminho do trabalho resolvi que não resolvo mais nada.

Estava aqui a ver um programa antigo e ouvi uma coisa gira. Nas escolas aprende-se tanta coisa, português, matemática, desenho, etc, etc. Aprende-se a lidar com ácidos, pedras e bichos. Mas não se aprende a lidar com pessoas.

Os dias quando acabam vão para onde?

Tudo se repete. Ou seja, nada se repete.
Tinha uma argumentação e uma lógica para ir duma coisa outra, mas resolvi pôr a versão curta e gastar as restantes letras a dizer que escrevi pouco, escrevendo muito.

Recordações de quando jantava na adega dos passarinhos sentado em sacos de batatas.

Que hoje ao acordar houvesse um aviso à porta:
O mundo está fechado para obras. Está a pintar. Volte mais tarde.

Nunca é tarde. Mas às vezes dá jeito pensar que é.

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Viagem ao centro da terra

Enquanto esperamos pelo inicio pedem-nos para assinar um termo de responsabilidade. Que não sofremos de nada de grave e que aceitamos o que nos possa acontecer. Acho graça e levo a coisa na brincadeira.

Vêm buscar-nos num autocarro, com todas as janelas tapadas com plásticos pretos. Não se sabe para onde nos levam. Pedem-nos para tirar os sapatos, relógios, carteiras, etc. Fica tudo num saco debaixo da cadeira. A saída do autocarro dá diretamente para um túnel escuro. Seguir em frente sem saber para onde.

Entra-se na floresta do sussurro. Está completamente escuro, e temos que andar em frente sem ver absolutamente nada. Lá vou andando como um zombie dos filmes, com os braços à frente com receio de bater em algo. Conforme andamos, há atores que se encostam a nós e sussurram ao ouvido pequenos textos.

No tunel do Midiotauro, há um negro enorme com cabeça de touro que pega numa moça do grupo e desaparece com ela. O homem que a acompanhava fica ali parado, de olhos esbugalhados, sem saber o que fazer. Lembro-me também do homem a cavalo que passa por nós a galope.

Esta foi talvez a experiência mais aterradora. Passamos por uma sala em que sentados à fogueira, tínhamos que escolher o caminho que iríamos seguir. Escolhi o que vim a descobrir ser o caminho da cruz.

Fui amarrado a uma cruz no chão e, como se não bastasse, vejo uma bola enorme a vir na minha direção. Só tive tempo de encher o peito de ar, momentos antes de passar por cima de mim.

É claro que também houve momentos com mais piada. Na sala do safe sex, os atores estavam nus metidos nuns preservativos gigantescos. A ideia era que ao passar nos tocássemos e por ai fora… Mas sempre protegidos 🙂

Que salas me lembro mais? Duma em que numa escuridão absoluta nos dão uma corda para a mão, temos que a seguir como guia para chegar ao destino. Dão uma recomendação, ao avançar não largar a mão de trás antes que a da frente esteja e a segurar bem a corda, ou seja ter sempre uma mão em contacto com a corda para não a perdermos. Até porque os atores na escuridão abanam e mexem na corda.

Lembro-me também da sala que penso ser a do Anjo, em que depois de uma série de salas escuras e sombrias, entramos numa sala completamente branca e muito iluminada. Lá tivemos que cantar e passar por uns rituais que simbolizavam a purificação.

E mais que puros, ficamos limpos. A seguir deram-nos uns sacos para pormos a roupa e depois passarmos nus por um túnel de onde caía sobre nós uma água muito fina, aspergida.

Havia um túnel para homens e um para mulheres, mas não era obrigatório. A namorada de um homem do grupo foi com ele no nosso túnel. Havia também a possibilidade de não passar por estas salas porque vi algumas pessoas de mais idade saírem pelo lado.

Depois do duche, entra-se para uma sala onde todos brindamos com vinho.

E finalmente, já puros e lavados, lá fomos levados para o autocarro que nos levou de volta ao ponto de partida.

Viagem ao centro da Terra, Rio de Janeiro 2001

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Isto foi das primeiras coisas que escrevi. Foi há muito tempo, mas podia ter sido num dia qualquer.

Um homem igual a muitos outros homens
sai de um emprego igual a muitos outros empregos
e entra numa multidão igual a muitas outras multidões
uma criança chora
um velho pede
no metro acotovelam-se solidões
insultos no engarrafamento
compra o jornal no quiosque da esquina
um avião caiu nas Filipinas
1700 trabalhadores da Fiat foram despedidos
um jovem suicidou-se cortando os pulsos
combate-se no sul de Angola
numa taberna dois homens lutam
chega a uma casa igual a muitas outras casas
diz á mulher igual a muitas outras mulheres
que foi um dia igual a muitos outros dias

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Contraditório porquê se a fonte da notícia foi alguém do Governo? por OSCAR MASCARENHAS

Ainda não tinha aberto o DN online de 21 de fevereiro, terça-feira de Carnaval, e já um leitor “meio ensonado” me alertava para a manchete do jornal: “Trabalhadores dos transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro.” O leitor, AJF, que me escrevera “às 5 e 43” da manhã, declarava-se “incrédulo”: “Sou funcionário da CP e não tenho essas benesses (nem outras que alguns jornais têm vindo a anunciar).”

A manchete saía no primeiro dia de uma greve de trabalhadores da CP e do metro de Lisboa.

Pouco depois, chegava-me outro e-mail: “Os trabalhadores dos transportes nem têm medicamentos gratuitos nem recebem o salário quando estão de baixa”, escreveu o leitor MH. “Nisso são iguais a todos os restantes trabalhadores. Não sei quem deu essas informações, o certo é que o DN não se preocupou sequer em confirmar as mesmas.”

Solicitei esclarecimentos à Direção do DN, que remeteu as explicações para o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, o qual respondeu: “A notícia a que se refere o provedor é de interesse público manifesto. Nesse dia realizava-se mais uma greve na CP, daí que o dever de informar os nossos leitores sobre as regalias e benefícios dos trabalhadores de algumas empresas de transportes seja mais do que óbvio. […]”

O jornalista acrescenta: “Sobre o conteúdo da notícia por mim redigida e assinada, reafirmo a sua veracidade e faço notar que as queixas ao provedor são apresentadas através de duas cartas anónimas que pretendem pôr em causa o trabalho de um jornalista sénior da casa. Os dados que constam da notícia fazem parte de um documento interno do Governo, usado pela tutela no desempenho da sua ação política. A sua divulgação não era suscetível de obter um contraditório junto dos sindicatos porque a matéria que ali está vertida faz parte dos acordos de empresa. Quem tiver dúvidas sobre o assunto, faça o favor de consultá-los. O DN pensa no interesse dos leitores, milhares dos quais são utentes da CP e de outras transportadoras também referidas no texto, e têm o direito de conhecer as regalias e benefícios que ali vigoram e que todos nós pagamos com os nossos impostos. O dever do jornalista é divulgá-los, sobretudo num tempo em que, por exemplo, são cortadas isenções de taxas moderadoras a idosos que têm dificuldades graves no acesso à saúde, comparticipações em remédios de doentes crónicos em fase terminal ou prestações sociais como sejam complementos de reforma. Por muito que isso custe a certos leitores anónimos.”

Preciso, desde já, esclarecer que os dois leitores que citei se identificaram perante mim de modo suficiente, não podendo ser considerados anónimos. Não dou atenção a correspondência anónima. No caso, fui eu que guardei a confidencialidade das suas identidades – e dispenso-me de explicar porquê.

Confesso que a resposta de Francisco Almeida Leite me deixou perplexo porque conseguiu a proeza de não me dar um único argumento jornalístico para a notícia que fez: há trabalhadores que fazem greve, pelo que é preciso dizer à população as regalias que têm os que fazem greve e os que a não fazem; há idosos que veem cortadas as suas taxas moderadoras, daí que seja necessário conhecer as regalias dos trabalhadores dos transportes. Nada mau para um argumentário político-partidário, mas que é do jornalismo?

Deixo uma reflexão sobre o tema do “interesse público” para o outro texto nesta página e volto à resposta de Francisco Almeida Leite.

Argumentário. Palavra-chave. É que a notícia em causa foi integralmente baseada num documento de circulação interna a que o jornalista teve acesso no ministério de tutela, e que ele próprio descreveu como “relatório interno que funciona como uma espécie de argumentário do Governo de resposta à greve”.

Não há nenhum mal em um jornalista divulgar um argumentário interno de uma entidade pública. Mas mandariam as regras básicas do jornalismo que o fizesse de uma de duas maneiras: ou para denunciar a existência do documento como elemento de propaganda ou contrapropaganda política; ou para verificar a veracidade e consistência dos “argumentos”. Ora, esta verificação faz-se através de investigação autónoma, confrontando documentos e informações disponíveis; ou, no mínimo, estabelecendo o contraditório, ouvindo aqueles contra quem se dirigem os argumentos.

Francisco Almeida Leite entendeu que não devia confrontar os sindicatos “porque a matéria que ali está vertida faz parte dos acordos de empresa”. Isso significa que ele próprio se deu ao trabalho de investigar, ponto por ponto, todos os acordos de empresa para concluir, por exemplo, que os “trabalhadores DOS transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro”, o que, logo por azar, tirou da modorra um funcionário da CP às 5 e 43 da manhã!

Receio bem que essa investigação não tenha sido feita e que Francisco Almeida Leite haja dado como boas as informações que recebeu do Governo. Este meu receio é convertido em certeza por outro leitor que aqui identifico como MG: “O DN publica um ‘trabalho’ sem realizar qualquer investigação, sem exercício do contraditório, sem sequer tentar esclarecer a veracidade das informações que dá ou o seu verdadeiro enquadramento. Como resultado, mente aos seus leitores sempre que a sua fonte – o Governo – mente ao DN, engana os seus leitores sempre que a sua fonte enganou o DN. Um exemplo particularmente fácil para ilustrar isto mesmo: o DN coloca em título que os trabalhadores da Carris têm 30 dias de férias, contrapondo implicitamente no título e explicitamente no texto esses 30 dias aos 22 dias dos restantes trabalhadores portugueses – omite, por falta de profissionalismo ou má-fé, que esses 30 dias são de calendário (devido ao facto de se tratar de uma empresa com laboração contínua) e os 22 dias com que compara são dias úteis. Ou seja, um mês de férias tanto tem 30 dias de calendário como 22 dias úteis!”

O diretor de serviço naquele dia, subdiretor Nuno Saraiva, informou-me de que “neste caso, subscreve” a argumentação de Francisco Almeida Leite. Só me cumpre dizer-lhe que faz muito mal. Como explico no texto em baixo, invocar o interesse público e não cumprir o dever de lealdade para com os visados de os ouvir não é jornalismo, é propaganda. Foi esse, consciente ou inconscientemente, o exercício que o DN fez naquela manhã de terça-feira de Carnaval.

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As civilizações tecnológicas são mais vulneráveis. Mas, e a gente pode viver sem tecnologia?

Não há muito tempo para ler fosse o que fosse, usava-se um suporte chamado papel. Nunca vi um papel avariar ou crashar. Nunca tive que atualizar o papel para a última versão para evitar incompatibilidades com os dedos. Nunca desapareceu ao faltar a eletricidade ou a bateria. Nunca tive que ir pesquisar no google para tentar descobrir porque é que as páginas não viravam quando as queria virar. Já deixei cair em cima de folhas tudo o que se pode imaginar, líquidos e sólidos. Dormi em cima de papeis vários, vezes sem conta. Caíram da cama, da mesa, das mãos, até de varandas. A tudo resistiu.

Graças a deus inventaram os ebooks, claramente era preciso.

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EU parte 1
Emprestam-nos 1 com a condição que lhe compremos 20

FMI
Sabem os anúncios. Empresta-se sobre carros. São indivíduos que se aproveitam de situações de desespero e fragilidade e emprestam dinheiros juros altíssimos e que se não pagarmos nos partem as pernas. Chama-se a isto usura e não é muito bem visto, e é até talvez crime se calhar.

Isto no caso dos particulares. Se se passar entre países chama-se ajuda e é bastante bem aceite. Existe uma diferença, é que no caso dos países passam a decidir tudo que o que podemos ou não fazer em nossa própria casa.

Ajuda
Dizem que a Europa é uma união. É como se fossemos uma família. Mas é uma família que trata mal os filhos.

Solidariedade
Se acham que somos mal tratados e que a Europa não é solidária connosco, pensem no que fazemos aos Gregos.

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