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Sol

navegar no século quinze

navegar no século vinte e um

Para além do penálti roubado, que faz com
que um homem se lance para a frente e perca
a vida à luz do sol: que será?

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Aquele grande Rio Eufrates

Todos os dias são poucos para chorar o homem
embora ele chame em seu auxílio as árvores

Olhai que bem nos fica andar na rua
pelo braço de alguma ideia respeitável
ousada sem excessos devidamente garantida

pelo sexo que trouxe até nós que fomos no princípio
apenas dois

Vejo-te então
preparada e tensa como um arco
e a inclinação com que solícita me atendes acompanha
a forma leve e sinuosa do que temos a dizer
Tão fresco é o teu riso
que quase te direi recém-nascida

Nascemos e morremos e nada acontece
da primeira à última palavra sempre que entre nós falamos
Não há ideia que não puxemos para de baixo do sol

Vai funcionário arranjado e composto inaugurar o teu dia
com prateleiras para todas as ideias
por estas ruas que começam a movimentar-se

É inútil repito. As ruas da cidade
de tão orientadas não vão dar ao coração
Os versos que erguemos ao longo dos passeios
coagularam em ilhas que a indiferença
rodeou de silêncio e ao roçar o asfalto
até adquiriram seguras cotações

O nosso deus é um deus ofendido

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A propósito duma “coisa” que saiu hoje publicada em papel de embrulho falemos de salários

Muita gente diz que paga muito de IRS. Sinto o mesmo, gostava de pagar menos e ter mais dinheiro.

Há uma solução fácil. Metade dos portugueses ganha menos de 800 e não paga IRS, esses não se queixam dos impostos altos. É pá, isso também não, como é que pago as despesas do mês todo com 600 euros, casa, carro, saídas, jantares, o netflix. As férias. Concentremo-nos no importante, os impostos são altos. Pouca gente pagar impostos porque nem têm para comer, não é relevante.

Espera aí. Será que pode ter a ver com os salários serem tão miseráveis e só uns quantos é que têm que pagar pelo SNS, pela educação, etc? E que tudo a dividir por poucos, dá muito? E se tudo fosse a dividir por muitos, daria pouco? Náá o importante é baixar o IRS, o IRC, os impostos todos, não é preciso mais nada. Os peritos, economistas, todos confirmam, baixando impostos vamos ficar todos melhor.

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Querem mais provas que os impostos em Portugal são altíssimos? Um ordenado de 1700 euros em PT dá 1300 líquidos e na Suiça dá 1500. Estão a ver? É claro que quem ganha 1700 euros, na Suíça ganharia 500 cá, ou seja quem faz um trabalho que cá paga zero de imposto, lá paga 200e. Caraças, não! Os impostos cá são altos. Que o salário mínimo no centro da Europa seja 1600 ou 1800 euros, isso são pormenores. Não é isso que é importante, o importante é baixar os impostos.

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Pronto ok, para ter a certeza absoluta. Comparemos com países europeus com salario mínimo parecido com o nosso, a Polónia por exemplo. mesmo que não tenha uma percentagem tão grande de pessoas a ganhar salario mínimo. Um salário de 1700e na Polónia traz 1200e para casa? As contas estão todas as erradas, só pode ser. Ou então é porque eles têm -20º no inverno e com o aquecimento sempre ligado precisam de menos dinheiro, já estão quentinhos e felizes por natureza. Os impostos cá são altos, baixem o IRS, baixem o IRC, baixem tudo! É que como se não bastasse a netflix e a sportv, agora tenho que pagar a eleven e a btv.

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O problema nacional é a competitividade, é certo. Não somos competitivos por causa dos impostos, pá. Ainda ontem ouvi na televisão, baixem os impostos e vem aí o D. Sebastião. Tudo quanto é grande empresa a vir para cá, somos a nova Alemanha, a China o eu sei lá. Vão vir charters cheios, já dizia o Futre. Só sei que vamos ser todos ricos. Vamos passar férias para Inglaterra e gozar do barato que é uma cerveja. Gabar o sorriso e alegria com que os Alemães me vêm servir a sangria numa esplanada em Munique. É tão fácil. Mas não contem a ninguém o segredo. Para sermos um país rico, é só baixar os impostos. O que vale é que foi um português a descobrir isto e ainda mais ninguém sabe no mundo.

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Ufa isto saiu maior do que estava à espera 😀

Evito ler noticias á hora de almoço. Sei que vou ficar enojado e depois dá nisto.

Em 2009 tentei deixar de me interessar pelo mundo por completo. Não consegui.
https://cuspir-contra-o-vento.blogspot.com/2009/03/o-ultimo-jornal.html

Bem tento não saber, nem querer saber.
Diz o outro, e acredito, que tenho em mim todos os sonhos do mundo
para que raio me hei de estar a aborrecer e atormentar com os sonhos dos outros?

Não sou eu no papel de embrulho de hoje, não ganho mal, acho que pago os impostos justos.
Porque merda de carga de água tudo isto me dói?

Este é o meu único drama. A dor de saber.
Quem trabalhe 12 ou 16 horas, ou só tenha batatas para comer no fim do mês não me dói se não souber nem pensar nisso.
O mal é saber. Como faço para dessaber?

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Saramago aos pedaços

Perguntaram a Saramago: Como podem homens sem Deus serem bons?
Resposta: Como podem homens com Deus serem tão maus?

A nossa escolha não tem por que ser feita entre socialismos que foram pervertidos e capitalismos perversos de origem, mas entre a humanidade que o socialismo pode ser e a inumanidade que o capitalismo sempre foi.

Antigamente eu defendia uma tese, a que regresso de vez em quando, que defende que o homem quando descobriu que era inteligente não aguentou o choque e enlouqueceu.

Duas fraquezas não fazem uma fraqueza maior, fazem uma força nova.

Costuma-se dizer que a solidão é enriquecedora, mas isso depende diretamente da possibilidade de se deixar de estar sozinho.

Cada homem tem a sua parcela de terra para cultivar. O que é importante é que cave fundo.

Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter,
ter deve ser a pior maneira de gostar.

É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com Sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava.

Nem a juventude sabe o que pode,
nem a velhice pode o que sabe

O costume de cair endurece o corpo, ter chegado ao chão, só por si, já é um alívio, Daqui não passarei.

O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.

o que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca
é preciso andar muito para alcançar o que está perto

Sentir como uma perda irreparável o acabar de cada dia. Provavelmente, é isto a velhice.

Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não.

Toda a gente fala de direitos humanos e ninguém de deveres, talvez fosse uma boa ideia inventar um Dia dos Deveres Humanos.

Um partido de pobres nunca ganharia uma eleição, porque os pobres não têm nada para prometer. Quem faz promessas são os ricos, ou, mais exatamente, é o poder.

Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.

O caos é uma ordem por decifrar

Encaminhamo-nos para a pior das mortes: a morte por falta de vontade, por abdicação.

Hoje é que estamos a viver, de fato, na Caverna de Platão, pois as imagens que nos são mostradas da realidade, de certa maneira, substituem a realidade.

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Viver encurralado numa cidade forrada a prédios e aço é horrível
No meio do horrível tenho sorte, aqui tenho andorinhas feitas de jardins e antigas casas senhoriais cobertas de azulejos e poesia

Sinto falta
Há alguém que não sinta falta?
Vivi e tenho o suficiente para saber que a falta não é de coisas

Não é algo que se tenha, que possuir não resolve
Também não é o fruto proibido

São talvez os momentos irrepetíveis e irrelembráveis, em que não há tempo
O Jorge palma é que sabe

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Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem

Táctica simples e eficaz. Pica-se um cão, durante dias ou anos, o tempo que for preciso. De cada vez que é picado, ele ladra e esperneia. Chega um dia em que morde e é mandado para abate, como cão perigoso que é. Vê-se esta táctica aplicada todos os dias, por todo o mundo.

O que não sabia é que também eu fui manipulado e enganado sobre o que se passou no 25 de Novembro. Pensava que era uma variante disto que se ensina nas escolas, que as forças ‘moderadas’ resistiram e venceram um golpe de estado dos radicais da extrema esquerda.

https://ensina.rtp.pt/artigo/25-de-novembro-uma-tentativa-de-golpe-falhada/

O que não sabia:
Que havia um plano bem definido do grupo dos nove e do PS para fazer uma limpeza das forças armadas e assumir a supremacia militar. O plano era concreto, quem fazia o quê, que apoios havia incluindo do estrangeiro. Até o pormenor de no dia da execução se transferir o ouro do Banco de Portugal para o Norte.

Poucos dias antes do 25 de Novembro Morais e Silva passa à disponibilidade os soldados para-quedistas (equivale a despedimento), manda os oficiais regressar ás unidades de origem com os vencimentos congelados e manda cortar-lhes o fornecimento de alimentos e o abastecimento de água, e de electricidade.

Seguidamente Otelo Saraiva de Carvalho é destituido de de Comandante da Região Militar de Lisboa e substituido por Vasco Lourenço.

Os paraquedistas revoltam-se e num comunicado que é lido na televisão e exigem a destituição de Morais e Silva.

As forças “moderadas” desencadeiam o plano que já estava estabelecido para mandar abater o cão. Prisão dos militares indesejáveis. Extinção do Copcon. Substituição da administração dos jornais e da ANOP (agência noticiosa). E o resto é história.

Tal como a guerra colonial foi o rastilho para o 25 de Abril, a extinção do regimento de para-quedistas foi o rastilho da revolta dos para-quedistas no 25 de Novembro. Mas esse é um ‘pormenor’ que não se ensina nos livros de escola. Tal como não se diz que havia um plano feito antes a contar com o fogo desse rastilho.

Como disse o presidente da Republica da altura: “Normalmente as reivindicações das massas são coisas simples. O povo português, é pacífico, não pode é ser excitado, porque é muito manipulável. Eu sabia que os manifestantes não actuariam violentamente, a não ser que fossem provocados.”

http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=th10

https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_de_25_de_Novembro_de_1975#An%C3%A1lise_hist%C3%B3rica

http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=977

https://expresso.pt/politica/2019-11-24-Toda-a-historia-do-25-de-Novembro-a-dramatica-aventura-que-ditou-o-fim-da-Revolucao-1

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Ando em arrumações

ia deitar fora LPs que tenho guardados
ao pegar neles alguns que estão ligados a momentos da minha vida despertaram-me essas memórias
a primeira reação foi pensar em não deitar fora, não querer perder as memórias e o passado
o sentimento de perda, seja do que for, é dificil para os humanos

depois começaram as perguntas
a ligação fisica é necessária? o pegar no Lp fisico desperta uma emoção muito mais forte do que ouvir um mp3 com a mesma capa?
estou mesmo a perder alguma coisa?

o que sou hoje é o resultado das minhas experiências anteriores.
elaborar sobre isso é tão interessante como elaborar sobre o sol nascer. é assim, e pronto.

relembrar ou reviver o passado, é uma história completamente diferente
estaremos a hipotecar ou a substituir o futuro?
ou a usar o passado para melhorar o que aí vem?
porque não viver no passado em vez do futuro?
é melhor parar por aqui e ir trabalhar, senão o futuro do final do mês pode ser chato 🙂
(resumindo para despachar, as memórias servem para quê?)

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Traduzir-se

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

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Não, não sou o único. Sou mais um.

Vinha a ouvir no rádio uma fulana a dizer que não tinha ficado não sei aonde porque lá havia tantos músicos bons que ia ser só mais uma.

Isto revela muita coisa. Primeiro uma coisa que não percebo, esse desejo quase doentio da fama, do destaque. Que não pode ser confundido com o desejo de não ser ignorado, de não ser invisivel.

Uma coisa é não querer estar isolado ou excluído, que é natural e possível para todos sem excepção.

Outra é o desejo competitivo de ser reconhecido mesmo por pessoas que nem sabe que existem.
É absurdo, bizarro e inumano no que temos de maravilhoso, a solidariedade.

Porque não sou o único a olhar o céu.
E não sou só mais um. Sou ainda mais um.

Xutos & PontapésNão sou o único
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