felizmente acontece-me pouco
ter que empurrar os minutos para que passem

um tempo pesado
ter que empurrar os minutos para que passem

um tempo pesado
Sal e o teu mar
as letras saem assim em folhas rasuradas
lâminas que riem
(o silêncio aqui)
lágrimas cor de terra
palavras que tremem
Tremo
choro nos teus pés
a cheirar a sol
(volto)
levanto a cara para a terra
(respiração)
A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós! Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… Mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da Justiça”? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, Internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no “microondas”. Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
Entrevista ficcional criada por Arnaldo Jabor a Marcola, líder do PCC (Primeiro Comando da Capital)
E nem percebo bem porque as faço. O eventual beneficio não justifica minimamente os riscos que corro. São impulsos, nada de consciente. Será talvez para me agarrar a mim.
faz-se espada
rasga a carne

vem
como seria ler-me não sendo eu. gostaria? por vezes sim, no resto não. grandes tretas. nada é absoluto, portanto qual é a novidade? que nada e absoluto não existem. bom, já estou a avariar... stop

de pé
...
para morrer