nina
esta mulher tira-me do sério
a sério
Abrir o capot, mexer em duas ou três coisas ao calhas e dizer com ar sério: isto é do carburador.
Usar também a cambota, o distribuidor, ou qualquer um daqueles nomes de peças que ninguém sabe exactamente onde estão.
tenho como adquirido que temos dificuldade de pensar em termos absolutos,
vemos tudo em contexto, nada vale por si, mas sim por ser pior ou melhor que outra coisa
é um truque que se usa, se algo parece mau, pensa-se em algo pior
e a coisa, sendo a mesma, torna-se melhor
mas isto tem um lado pernicioso,
o pico que se ambiciona, é fugaz.
e depois do pico tudo parece menor, e gera insatisfação
natural que o homem seja por natureza insatisfeito e inquieto
e isto liga-se de alguma forma a algo que li ontem
só se perde aquilo que se agarra
e do mesmo modo como quero aprender a ver pelo valor das coisas em si, quero aprender a deixar ir
tudo vai e vem, isso da posse não existe,
não somos donos de nada, só pensamos que somos
e cito:
‘Apenas nos iludimos, pensando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Nao perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.’
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
Do you think you can tell?
Mais do que a um país
Que a uma família ou geração
Mais do que a um passado
Que a uma história ou tradição
Tu pertences a ti
Não és de ninguém
Querido, achas que sou bonita?
Eu não diria bonita, pois trata-se de um conceito adoptado pelas classes dominantes para classificar animais humanos dentro de padrões de beleza culturalmente preestabelecidos.
Isso quer dizer que sou feia?
Cosmeticamente diferente é o termo mais adequado.
Mas, ainda me amas?
O amor é um sentimento inventado pela burguesia com intuito de subjugar os indivíduos a um único modo de pensar a sociedade, tirando-lhes a razão e o senso crítico.
E depois?
Depois, nutro por ti um sentimento de co-participação em interesses de ordem habitacional, económica e sexual.
O quê? Quer dizer que tu só me queres como mulher-a-dias e prostituta?
Não se diz mulher-a-dias e sim higienizadora ambiental. E tratar parceiras sexuais alugadas como prostitutas não é politicamente correcto.
Deves estar louco.
Emocionalmente fora do padrão.
Bem me avisaram que eras um chato.
Chato não, pessoa interessante de maneira diferente.
Como fui cega…
Desprovida de capacidade visual é mais correcto.
Não sei por que casei contigo!
Desconheces o motivo que te levou a submeter a uma institucionalização oficializante do relacionamento de co-habitação entre duas pessoas de sexo não coincidente.
Idiota!
Pessoa com ideia fixa.
Para mim chega! Vou procurar um amante que me queira.
Não precisas de recorrer a este tipo de relacionamento com padrão não convencional, nós ainda podemos partilhar de uma coexistência saudável como duas pessoas com referências diferenciadas da cultura dominante.
Prefiro viver com um lavador de carros a continuar contigo!
A tua preferência em manter uma co-habitação de carácter afectivo com um especialista em aparência de veículos, não te dá o direito de comparar opções de meio de sobrevivência alternativo com o meu comportamento que se diferencia dos dogmas do status-quo.
Ah, por que é que não podes ser uma pessoa normal?
A normalidade é uma convenção imposta.
Chega, não aguento mais! Quero ver-te morto.
O que tu desejas é transformar-me num indivíduo metabolicamente inviável.
Deve haver milhões de desenhos, pinturas e esculturas da crucificação.
E quem está na cruz, o que vê? Esta pintura mostra a coisa vista do outro lado.
O normal é vermos as coisas do nosso lado. Mas é saboroso espreitar o outro.
https://wiki/seen_from_the_Cross
Diz a wikipédia que é uma imagem invulgar por jesus não ser o centro da cena.
É outra forma de o tornar central. Ver pelos olhos dele.