Ouvido hoje na rádio: Há quem sonhe com coisas que aconteceram, e explicam porquê. Eu sonho com coisas que nunca acontecerão e pergunto, porque não?
Ouvido hoje na rádio: Há quem sonhe com coisas que aconteceram, e explicam porquê. Eu sonho com coisas que nunca acontecerão e pergunto, porque não?
Eu também. No outro dia sonhei que o Pai Natal e o Coelhinho da Páscoa me tinha convidado para um chá. E por que não?
É de isso que se diz sonhar acordado?
Comecei nisso quando criança, enquanto chovia e comia castanhas, cozidas em fiunchos, ou em nébeda (erva das azeitonas).
Gostava tanto fazê-lo, sonhar, que logo se converteu em meu vício máis íntimo, até alcanzar extrema facilidade para caminhar sobre nuvens.
Por isso, ainda hoje, os sonhos me sabem a castanha cozida e me sâo tâo húmidos como indigestos.
O resto, os que me acontecem no sono, sâo, inconfessaveis alguns, pesadelos a maioría.
E como sonhar acordado já nâo mo resiste o estómago, os sonhos sâo algo que me resulta estranho.
… coisas do Luís? porque nâo?
***
e por isso é pelo que
vejo o mundo tal cal é.
(Celso Emilio Ferreiro, Longa noite de pedra)
É o nosso destino, andar por aí a sonhar acordados, que os mortos não bebem. (segundo li há pouco).
E assim vamos de estranheza em estranheza, que é o nosso alimento.
E como qualquer alimento, a estranheza ingere-se em doses moderadas, porque,como diz a Cuca, demasiada metafísica faz-nos mal e há alturas em que devemos apegar-nos com força às coisas banais.