Quando era puto, um gajo dizia: épá já ouviste o álbum xpto daqueles fulanos? É muita bom, pá. O outro cravava o disco e ia ouvir. Isto acontecia de vez em quando. Que saiba nunca ninguém se preocupou em dar nome a isto.
Agora partilha-se. Toda a gente está cheia de coisas e de vontade de as partilhar com toda a gente. E no entanto, pelo contrário, partilha-se cada vez menos. Porque espetar uma coisa no facebook e chamar-lhe partilha, não é partilhar.
Deita-se abaixo um jardim e no seu lugar constrói-se um prédio. Na fachada do prédio pinta-se um jardim. Pois… não é um jardim.
O antónimo de virtual é real. Quem pense o contrário transforma o virtual em ilusão.
Partilhar é comer do mesmo pão. Para isso é preciso estar ali, naquela hora, naquele lugar, a comer o pão.
Comer o meu pedaço de pão e deixar o resto em cima da mesa, não é partilhar.
Mesmo que alguém passe e mordisque um bocado. E o mais provável é que atirem o resto do pão para o lixo.
Partilhar é beber do mesmo copo, mas sem ser lavado pelo meio. Partilhar é comunhão, é chamar-te para viver um bocado da minha vida.
Pôr a fotografia do copo numa parede há-de ter outro nome qualquer.
Pois não é, não será mais do que um exercício de vaidade, de mostrar que se conhece, de mostrar ao outro que se possuiu – se o objecto concreto, se a ideia, não sei.
Estava aqui a olhar para o dia de hoje e veio-me à mente num repente que há cerca de dois anos «partilhei» uma coisa no blogue e, pouco tempo depois, um leitor escreveu um texto que, de certa forma se aproximava ao teu. Fiquei muito irritada na altura, quem era o dito cujo para presumir o que quer que fosse.
A verdade é que ele tinha razão. Mesmo que lha queira dar, já vou tarde.
Vaidade, vaidade, tudo é vaidade. Até a suposta partilha.
Notícia triste: estou de luto, o meu tanque de guerra feneceu. 🙁 Vê lá se, ao menos, partilhas a minha perda…
Muita vezes é vontade genuína de partilhar. Imagina que no caminho para aqui vim a ouvir uma musiquinha porreira, que me fez abanar de alguma forma.
É forte a tentação de pôr essa musica algures, desejando quem ouça também sinto um pouco desse abano.
Muito improvável que isso aconteça. Uns não ouvem, outros põem a tocar 5 segundo no meio para ver como é, ou ouvem enquanto leem as noticias no pc.
Como se pode partilhar aquele momento que se teve com a disponibilidade de estar ao sol?
Se dizer que ouvi aquela musica ou que gosto dela é partilhar, então os jornalistas são os que mais partilham. E a senhora do tempo a partilhar comigo que amanhã vai chover.
Por favor não estraguem mais uma das palavras bonitas que há.
Muitas vezes não é sempre. Ainda assim, é vaidade: mostrar que se conhece uma música porreira que abana de alguma forma.
Olha especificamente para o significado de «partilhar», as redes sociais preferem uma acepção, tu teimas na outra. Depende da perspectiva.
par·ti·lhar – Conjugar
verbo transitivo
1. Fazer partilha de; dividir, repartir, distribuir.
verbo intransitivo
2. Participar.
“partilhar”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/partilhar [consultado em 04-10-2013].
Sou teimoso que nem uma porta e defendo a minha dama até ao fim 🙂
Distribuir seria o significado mais próximo. Mas publicar num mural do facebook é equivalente a pôr uma mensagem nos quadros de avisos que há nalguns lugares públicos. E ninguém diria que isso é partilhar.
Onde é que leste no que escrevi que te queria fazer mudar de ideias? Lá por estar a questionar o teu ponto de vista a apresentar-te outros possíveis, não quer dizer que não concorde preferencialmente com o teu ou que queira que mudes de opinião. É tão só aprofundar um ponto de vista e, no fundo, ajudar-te a cimentar razões para não gostar da partilha enquanto distribuição.
Não passa disto. As redes sociais distribuem informação e, não te enganes, o que quer que afixes lá tem mais alcance do que o que possas pensar.
Tu preferes a acepção «participar», «repartir», e não há qualquer problema.