Há tanta gente na estrada dedicada a impôr a lei e a ordem, que tenho para mim que a Brigada de Transito é desnecessária.
É claro que para os Justiceiros da estrada os maus condutores são todos os que não conduzem como eles.
Buzinam, fazem sinais de luzes e tudo o que for preciso para travar os Idiotas e Maníacos.
Hoje um Justiceiro mudou de faixa mesmo para cima de mim. Primeiro encostei-me, depois tive mesmo que travar para não batermos. Eu vinha a mudar demasiadas vezes de faixa, impunha-se castigar-me. Como não reagi, sentiu que o castigo infligido tinha sido em vão. Começou então a mostrar-me que era pessoa possuidora de dedos do meio.
Confesso que os Justiceiros me irritam profundamente. São tão rápidos a buzinar como a fugir, quando a gente se chega ao pé deles.
Hoje de manhã assim que saí do carro, o senhor dos dedos ficou sem dedos, sem janela e com um torcicolo que o impedia de olhar para o lado. É certo que a minha vontade era de lhe ficar com os dentes todos, mas podiamos ter conversado na mesma.
Eu adoro os turistas, principalmente os que param em curvas com má visibilidade, só para consultar o mapa ou atender o telemóvel.
A estrada é provavelmente dos sítios mais igualitários que existem.
Onde moramos, ou onde trabalhamos ou até mesmo onde vamos às compras, há pessoas mais ou menos semelhantes a nós. Na estrada todos se cruzam desde o Belmiro que passa no Jaguar ao sem abrigo que atravessa a rua.
Como se pode esperar que a coisa coisa corra bem? Cada um tem a sua visão das coisas.
É por isso que odeio os Justiceiros. São os gajos que têm que impor o seu modo de vida a todos à sua volta. Odeio-os. Como odeio todos os que exercem posições de poder. Por mim fecha-os todos numa sala, para se chatearem uns aos outros, e deixarem-me a berguilha em paz.