Estive aqui um bocado a pensar na frase.
Também, é pelas oportunidades de pensar em coisas pouco habituais que gosto mais de vir aqui.
A palavra ‘casalinhos’ parece-me ser a mais marcante, porque diferenciadora, ao nível da interpretação da frase.
Experimentei substitui-la por ‘casais’. A frase perde o sentido, ou boa parte dele.
Nunca andei à pesca, mas já vi como os pescadores fazem.
Têm de arranjar um isco, que depende das espécies que existem naquela área, colocam-no no anzol, lançam à água e vão movimentando. Nestes movimentos vão percebendo onde está o peixe e a melhor forma de o apanhar.
‘Casalinhos’ remete para pares novos. Não necessariamente em idade. Casais que têm uma relação jovem, pouco madura, em que ainda não existe grande conhecimento um do outro. É por tentativas, pelas várias experiências que têm, que se vão percebendo… À partida, neste processo, quanto mais recente for a relação mais turvas, porque desconhecidas, são as águas em que se movimentam.
Tal como os pescadores.
E algo relacionado com o novo, com a descoberta destes casalinhos, trouxe-me à memória (não uma frase batida!), mas a belíssima letra de “A noite passada”, do Sérgio, que diz assim:
A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas “sou gaivota e fui sereia”
ri-me de ti “então porque não voas?”
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho “olá”,
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste “ainda bem que voltaste”
Se queres que te diga, já não tenho a certeza do que pensei na altura. O que penso agora é que os casalinhos (e sim, as palavras que se escolhem significam) tal como os pescadores andam fora de sitio, fora de horas.
Vá lá, até nem estive muito, muito, fora da coisa.
Luís, pensei que houvesse ali uma rasteira das tuas. 🙂
Para te dizer a verdade, a expressão que me ocorria por causa do desconhecido e talvez do escuro, tanto por parte dos pescadores como dos casalinhos era ‘andarem às apalpadelas’, mas dei uma volta maior para não a utilizar, por causa de se poder fixar apenas num lado da interpretação que eu não queria.
Estive aqui um bocado a pensar na frase.
Também, é pelas oportunidades de pensar em coisas pouco habituais que gosto mais de vir aqui.
A palavra ‘casalinhos’ parece-me ser a mais marcante, porque diferenciadora, ao nível da interpretação da frase.
Experimentei substitui-la por ‘casais’. A frase perde o sentido, ou boa parte dele.
Nunca andei à pesca, mas já vi como os pescadores fazem.
Têm de arranjar um isco, que depende das espécies que existem naquela área, colocam-no no anzol, lançam à água e vão movimentando. Nestes movimentos vão percebendo onde está o peixe e a melhor forma de o apanhar.
‘Casalinhos’ remete para pares novos. Não necessariamente em idade. Casais que têm uma relação jovem, pouco madura, em que ainda não existe grande conhecimento um do outro. É por tentativas, pelas várias experiências que têm, que se vão percebendo… À partida, neste processo, quanto mais recente for a relação mais turvas, porque desconhecidas, são as águas em que se movimentam.
Tal como os pescadores.
E algo relacionado com o novo, com a descoberta destes casalinhos, trouxe-me à memória (não uma frase batida!), mas a belíssima letra de “A noite passada”, do Sérgio, que diz assim:
A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas “sou gaivota e fui sereia”
ri-me de ti “então porque não voas?”
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho “olá”,
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste “ainda bem que voltaste”
Se queres que te diga, já não tenho a certeza do que pensei na altura. O que penso agora é que os casalinhos (e sim, as palavras que se escolhem significam) tal como os pescadores andam fora de sitio, fora de horas.
Vá lá, até nem estive muito, muito, fora da coisa.
Luís, pensei que houvesse ali uma rasteira das tuas. 🙂
Para te dizer a verdade, a expressão que me ocorria por causa do desconhecido e talvez do escuro, tanto por parte dos pescadores como dos casalinhos era ‘andarem às apalpadelas’, mas dei uma volta maior para não a utilizar, por causa de se poder fixar apenas num lado da interpretação que eu não queria.