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Não pertenço a este mundo parte#(muitos)

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Um mundo em que uma fotografia como esta não seja recebida com estranheza ou indignação.

Acharia a foto normal se os gajos viessem da pesca e fizessem uma fotografia de grupo com o peixe de 7 quilos que acabaram de pescar, ou com a taça no final dum torneio que tenham ganho.

Encontram uma criança que estará assustada e a precisar de cuidados, e que lhes tenha sequer passado pela cabeça: Olha anda tirar uma ‘selfie’ com o miúdo, já é de bradar aos céus. Gente com as prioridades distorcidas acontece.

Mas que seja a instituição GNR a exibir publicamente a fotografia é revelador. Sejam bem vindos à geração facebook onde a primeira coisa e quase única coisa que interessa é ‘aparecer’ e ‘partilhar’ (i.e. exibir) os troféus.

https://www.dn.pt/sociedade/interior/gnr-partilha-imagemdo-momento-em-que-encontroumartim-5461670.html

Em breve teremos fotografias da malta do INEM sorridente ao lado dum gajo encarcerado num automóvel.
Dai-lhe mais uns tempinhos.

10 comments

  1. Fiquei a ler, como faço tantas vezes, outros posts teus. Aqueles que estão por baixo que levam a outros, que levam a outros
    Escreves tão bem Luís, tu sabes mas ainda não to tinha dito.
    Também barafustei cá em casa quando vi nas notícias. O PR, para parecer ‘cool’ tira ‘selfies’ a torto e a direito. Então os GNRs acham-se no direito de o fazerem também, heróis de polichinelo.

  2. Também me identifico com a indignação que aqui trazes e com o que a Inconfessável comentou.
    Avanço já que não me admirei que a GNR o fizesse e explicarei mais à frente.

    Nada aponta para que do lado da família haja indignação.
    Não se importam, não conseguem fazer um exercício de análise mais fina, acham bem, deram autorização ou até gostaram? Talvez a posição deles se encaixe numa destas opções, provavelmente até condicionada pelo facto de, antes, divulgarem uma foto do miúdo desaparecido e agora interpretem como um agradecimento.
    Isto aconteceu próximo de um dos meus raios de acção e oiço muito esta opinião do agradecimento.
    Seja como for, se a família aceita este procedimento, a indignação que soe dos mais distantes, tem pouco ou nenhum efeito porque foi “legitimada”.
    Eu sinto assim como coisa impotente, é isso.

    Agora é mais um momento meu de expor o peito às balas.
    A GNR e a PSP não têm condições para seguir e ter em mãos crimes de determinada natureza, sobretudo os que estejam associados a questões afectivas e íntimas específicas que devem exigir discrição, recato, protecção à vítima.
    Não digo que a culpa de não terem condições é deles ou que façam um mau trabalho tendo em conta as condicionantes. Talvez não recebam formação adequada. As condições logísticas das instalações não são adequadas para receber pessoas que apresentem queixa de crimes em que o respeito da privacidade se impõe. Um balcão ou mesa numa entrada e um “então diga lá” sem levantar os olhos da faca e alguidar do “Correio da Manhã”, não é propriamente o cenário ideal para acolher essas pessoas.
    (Tenho consciência da caricatura.)
    E isto percebe-se muito bem quando se pode ter como termo de comparação o trabalho que é desenvolvido pela PJ, em que os aspectos que citei são muito bem acautelados. Trouxe aqui esta referência para fazer notar que em Portugal também se faz boa investigação criminal.

    Embora isto que vou dizer esteja mais distante, refiro na mesma porque se enquadra na falta de protecção à vítima que vem de entidades que não deveriam de modo nenhum deixar passar isto em branco.
    Qualquer pessoa vítima de crime, que tenha sofrido danos corporais, e que apresente queixa, tem de ser escrupulosamente avaliada pelo Instituto de Medicina Legal no prazo máximo de três dias. Três dias até é muito, mas enfim, pode ser cruzado com relatório da unidade de saúde. Outra parte que não corre bem a nível do resguardo da intimidade é que essas pessoas esperem em conjunto numa mesma sala pela consulta de avaliação. Normalmente tal acontece numa ala de um hospital público. Às vezes são dezenas. Sabe-se que todas aquelas pessoas passaram por crimes recentes. Há a parte visível da coisa que inevitavelmente leva a olhares invasivos, perguntas ou ao reparo ao ouvido mas que se percebe.
    Outro tipo de violência.
    Não é difícil imaginar soluções para contornar esta questão.

    Portanto, a mim cabem-me várias indignações à volta desse tema principal.

  3. Olá Isabel

    A fotografia foi tirada e e terá sido pedida a autorização para ser publicada que não deve ter sido dada, já que o rosto da criança aparece distorcido.
    Mais grave será se os GNRs tiverem ficado com a foto e ficaram com quase toda a certeza.

  4. Inconfessável, olá!
    Pareceu-me que presumes que terão pedido autorização e que não foi dada por causa da distorção do rosto… Portanto, que não há certeza sobre isso.
    Interpreto ao contrário porque tenho dificuldade em acreditar que a GNR tenha publicado a foto à revelia da família, mesmo com esse artifício. É que a criança não deixa de ser identificada, dado o historial
    Hei-de tentar saber na zona se essa informação sobre a foto, autorizada ou não, é conhecida.

    Levaste-me a pensar mais.
    Esta foto será parte integrante do processo? Não sendo, o que a diferencia de outra que o seja? Se for, pode ser publicada “assim”?
    Admitamos o seguinte: uma entidade policial decidia publicar fotos minhas, integrantes de um determinado processo de investigação, com o meu rosto distorcido e com o nome colado. Não estaria a colidir com a reserva da minha privacidade? Sim, estaria, e isso não iria correr bem.

    A entidade ficar com a foto depende da resposta aquela primeira pergunta.
    Se fizer parte do processo, tem de lá estar e não é por aí que vem mal ao mundo. Aquela informação está coberta pelo dever de sigilo.

    1. Estou dentro do mundo da especulação e sim presumi o que entendeste, Isabel. Também presumo que não foram os GNRs que publicaram a fotografia mas sim aos media quando souberam que a tinham tirado. Os rapazes pensaram fazer dinheiro com a fotografia e por isso a tiraram.
      Claro que tudo isto dentro do tal mundo especulativo.
      Não acredito que esta fotografia faça parte de qualquer processo por tão vazio de conteúdo, a não ser o da criança ter sido encontrada.

  5. A autorização e a ética do que os media publicam tem muito que se lhe diga, e as mais das vezes os media passam tudo e toda a gente quer aparecer. As razões para isso são outros 2$50.

    Mas o que que me choca aqui vem antes disso. O facto da foto existir, É que se não existisse não havia nada para autorizar.

    Primeiro o miúdo é exibido como se fosse um troféu. O principio é igual a isto
    Os bons que ganharam, o resultado da proeza que está ali sem voto na matéria e preferia não estar

    Segundo, das vezes que estive em pânico por alguém ou algo se ter perdido, após o encontrar os meus sentimentos foram primeiro de alivio e alegria, e depois de descansar quem estava preocupado. Nunca me passou pela cabeça, olha antes disso vamos todos aqui à volta tirar uma fotografia da ocasião.

  6. Luís, sem dúvida que o principal problema vem a montante.

    Contudo, parece-me fazer algum sentido pensar no que vem a seguir porque é difícil que os princípios de ética vinguem em determinadas franjas, sem que tenham outro tipo de suporte a que nos possamos agarrar.
    Não defendo que o caminho tenha de se fazer pela força, mas algum inicia-se pela força da aplicação da lei.

  7. Sim Luís, foi o que disse no meu primeiro comentário.
    Querem ser heróis por um minuto e dinheiro.

  8. Na verdade estamos todos de acordo. Mas desconfio que fosse botar isto num forum qq ou no facebook, era posto na rua 🙂

    Inconfessável, obrigado pelo contrário inicial. Sem falsas modéstias digo que em certas épocas e certas coisas até eu gosto do que escrevi.

  9. É bom que gostes. O que tenho lido até aqui é muito bom, embora saiba que quem escreve bem nunca está satisfeito 🙂

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