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Homem morre atropelado em Albergaria-a-Velha

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Um homem morreu, ao final da tarde deste sábado, atropelado no centro de Albergaria-a-Velha.

Isto foi publicado pelo Jornal de Noticias há poucos dias. Alguém me explica porque isto é noticia nacional?

Que importância tem para os 10 milhões de portugueses que não o conheciam, nem são lá da zona?

E não fiquei mais informado. Não preciso de ler para saber que volta e meia alguém morre atropelado.

O ano passado morreram 82 peões, em 1996 foram 480. Assim já fiquei a saber mais alguma coisa.
Que se fez muito que nesta área em 20 anos. E era fácil pôr isso na noticia, nem um minuto tinha sido preciso.

Porque razão os jornalistas e editores se dedicam a banalidades? Será por preguiça mental?
Será pelas audiências, porque as pessoas preferem o lado voyeurista, ao informativo?

5 comments

  1. Tens toda a razão. Confundir o banal com o que é realmente importante é um erro.

    1. Sabes o que me preocupa? É que não seja um erro.

      As coisas intencionais erradas, são erros?

  2. Corresponde a uma estratégia de marketing dos novos tempos, que é alimentada por quem vende e por quem compra.

    Crê-se que a impessoalidade cria vazio. (Não estou a dizer que não cria. Às vezes sim, outras vezes não é assim sentida.) Então, a referência a um ou a poucos, àquilo que acontece à nossa porta ou no nosso bairro, quer-se que seja interpretado, e muitas vezes o é, como uma sensação de afago, o eu conto, alguém se lembra de mim (que às vezes vemos refectido na notícia sobre aquele outro, único, o homem que foi atropelamento.)

    “No meio de tanto a acontecer e no meio de tantos, lembraram-se de mim.” Às vezes o efeito até passa num nível mais ou menos do subconsciente, mas deixa um rasto que somado a outros cria essa ilusão.

    Sim, e somado a isso há o lado voyeurista que aparece muitas vezes encapotado.

    Por exemplo, o que interessa do ponto de vista informativo (estou a lembrar-me que talvez o conceito “tenha de ser” reformulado) que aquele casal do qual fotografaram os farrapos, morreu durante a lua de mel devido ao tsunami, e até nem era para ter ficado ali, que fez uma pré-reserva noutro destino?

    Mais: há que fazer crer que se tem o melhor jornal, o melhor canal de televisão, os melhores profissionais… “Como é que eles foram descobrir aquilo?”, diz o público. “Temos de ir descobrir histórias, aquela história que ninguém contou.”, diz o lado da “informação”.

    Sem nos apercebermos, não seremos ‘todos’ um bocadinho assim? À procura do que ninguém ainda mostrou ou disse, que cria a ilusão de ser único dessa forma, mas ao mesmo tempo ser massa porque persegue o mesmo.

    E não seremos também um bocadinho assim ao deslumbrarmo-nos com o detalhe, este tipo de detalhe, no meio da imensidão ou da multidão?

    Não será devido a razão semelhante que uma superfície comercial coloca o nome de cada um num sms de promoções enviado para milhares?

    Lembraram-se de mim / lembraram-se de ti… Mesmo que de forma muito leve esta ideia do não se estar só é a que importa vender e comprar

    1. Como dizia o outro o Joaquim morrer é uma tragédia, cinquenta milhões de mortos é uma estatística.

      Mas aqui nem é bem isso, porque o morto é impessoal, não tem nome, não tem cara.
      E por isso não o torna único. Mesmo na morte é mais um.

      Isto é só o jornalismo de sarjeta a cair na vulgaridade.

  3. Lembrei-me disto outra vez, embora não tenha que ver com jornalismo, e por isso pode dizer-se que não está relacionado. Mas se me lembrei…

    Há tempos vi publicada numa rede social, uma foto de um pedaço de inquérito aplicado aos visitantes de um equipamento cultural. Tratava-se da resposta à forma como os inquiridos tinham tido conhecimento daquela “casa”, em que aquele visitante disse ser através de uma criança de pouca idade.

    A este questionário responderam cerca de sete dezenas de pessoas e a resposta que mencionei, que foi a divulgada com aquela foto, foi a única deste tipo.

    Fiquei um bocado a pensar no assunto. Parece-me que é dos tais casos que não há o certo ou o errado, embora se fosse eu a fazê-lo (não me parece que o fizesse pessoalmente), julgo que faria um enquadramento com o número de respostas, etc..

    E digo que não há o certo ou o errado porque:
    – Por um lado, a resposta não é expressiva em termos de número que possa indicar uma tendência. Então, e os outros motivos, podemos questionar, e daí extrapolar para uma possibilidade de estar a dirigir o público leitor daquele pedaço para uma determinada necessidade e importância, ou de tirar outros ‘proveitos’;
    – Por outro lado, aquela minoria pode ser entendida como meritória em termos de alerta para algo que acontece, embora não frequentemente.

    Apesar da possibilidade de me quererem dirigir para algo bom (já não estou a pensar nesta questão ou de uma tal notícia), revejo-me melhor nas situações – notícias, etc. – em que me apresentam as coordenadas principais, e tiro as minhas ilações, faço o meu juízo.

    E agora está-me a ocorrer um assunto que volta e meia vem à baila, o que aconteceu ainda há poucos dias em “coisas” que vou lendo: deve o jornalismo ser um jornalismo de causas? o jornalista deve ser imparcial?

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