Obrigatoriamente na televisão os blocos de publicidade têm que ter um separador para sabermos que o que se segue é publicidade.
A publicidade nos jornais é assinalada para distinguirmos entre o que é opinião e o que é pago. A mesma coisa com a google na publicidade que é inserida nos sites. No Facebook a mesma coisa.
Não seria hora para legislar sobre os bloggers e youtubers, que ganham a vida com publicidade paga pelas marcas, e que publicam como se fosse opinião?
Veja-se o caso da pipocamaisdoce, provavelmente o blogue mais popular desse tipo. Todos os posts fazem referência a marcas, que é sabido pagam por isso. A bem da transparência não deveria estar lá um aviso: “Publicidade”?
Para não dizer uma declaração de interesses, como certas profissões são obrigadas. Quando digo bem da Vodafone, faz toda a diferença saber-se se sou pago pela Vodafone ou não.
Porque hão-de estar os bloggers e youtubers acima da lei?
Quando li o título pensei que também irias falar de referências publicitárias que se passam em televisão, no meio dos programas como se fizessem parte das cenas, e que não têm separadores. Já vi acontecer num canal generalista privado e não sei se sucede em mais.
Um exemplo que ilustra o que digo, mas com uma marca ao calhas, sem saber se faz parte da dita publicidade.
No enredo há um lanche, os actores bebem sumos Compal, cujas embalagens estão bem visíveis, e embrulhado nas falas que fazem parte da história, há considerações sobre as características da bebida e apelos ao consumo da mesma.
Automóveis, alimentação e bebidas, cosméticos, são alguns dos produtos em causa.
Isto passa-se sem separadores e o espectador não tem opção de não ver a publicidade sem perder a história que estava a seguir. Ou seja, trata-se de uma forma subreptícia de quartar a liberdade.
O constar no início e no fim que o programa tem publicidade a determinados produtos, chega? Até pode chegar para cumprir a legislação, que não fui ver a este ponto de detalhe, mas se colide com direitos fundamentais dos cidadãos, não chega. Ou melhor, chega para satisfazer grupos de interesses.
Concordo com o que dizes sobre a publicidade no virtual e tenho pensado uns bons pedaços sobre a questão de estarmos perante uma nova ordem e como é difícil filtrá-la, controlá-la. Não apenas no que diz respeito à publicidade.
Ainda há pouco tempo, semanas, foi suspenso um programa televisivo da SIC, devido ao facto de haver exposição de menores em contexto privado, em situações consideradas íntimas, como tomar banho, tomar refeições em casa, vestir, etc., tendo sido alegado por alguns organismos ligados à protecção dos direitos das crianças, de que se tratava de uma violação desses direitos. O programa era monitorizado por uma psicóloga e a direcção da estação disse de várias formas, que se tratava de ajudar os pais e as crianças, que pela primeira vez se estava a abordar a parentalidade sem estigmas e usando um meio de grande difusão, que existe em vinte e tal países, etc, etc.
Não chegou e ainda bem, digo eu, que o programa foi à vida e é bom que não volte. (Vi o primeiro e por isso formei opinião sobre o assunto com base no que observei e não no diz-que-disse.)
Muito bem.
E o resto que existe sobre exposição de crianças a toda a hora? Nos blogues, no facebook…? “Ah, é com o consentimento dos pais, até são eles que o fazem.” Pois, ali também era, aliás os pais eram peças do programa. Para além disso, como foi o caso, pode denunciar-se quem exponha indevidamente os menores, mesmo que sejam os responsáveis pelos mesmos (pais, avós, etc.)
Como controlar estas situações?
É difícil pelas inúmeras formas que são utilizadas.
Um tema que fez correr muita tinta pela blogosfera. Apercebi-me de alguns debates interessantes.
Com a publicidade através desses meios, também não será fácil filtrar, na medida em que há imensas nuances, algumas de difícil destrinça se se trata de publicidade paga.
Devia prevalecer a ética.
Product-placement é muito discreto, comparativamente a fazer todo um artigo sobre um produto onde se opina sobre o próprio produto. A questão é essa, que fique claro a quem leia que recebi contrapartidas do vendedor do produto que estou a gabar.
Destrinçar, é fácil.
Recebeu compensação em dinheiro ou espécie para fazer o artigo? Tem que o dizer no artigo.
Não o fez e é apanhado? Multa.
Quando vendo algo tenho que passar factura.
Não o fiz e sou apanhado? Multa.
Tudo o que depende da ética está completamente lixado.
Se nem a lei, as multas e a prisão servem, quanto mais a ética.
Vou dar dois exemplos que têm contrapartidas, mas cujas malhas é difícil apurar.
O primeiro é fora do universo publicitário, mas a trama do negócio podia ser aplicada.
Passou-se há cerca de uma década. Refiro o intervalo temporal porque pode ter importância. Actualmente pode ser mais fácil de apanhar, que não sei se é.
“Arrendamento” de um imóvel, mas cujo suporte é um contrato de cedência considerado válido, com direitos e obrigações de ambas as partes, não constando qualquer pagamento. O “inquilino”, beneficiando de um abatimento, transfere dinheiro para o “senhorio”, devido ao pagamento de utilização da casa, mas nada há que ateste que se deve a “renda”; é dinheiro que lhe dá e o “senhorio” beneficia pelo facto de não ter de declarar.
Não se tratava de negócio de milhões, mas era dinheiro que escorria pela porta do cavalo.
No meu espaço já tem acontecido fazer posts inteirinhos de divulgação de livros e apelos para que vão à apresentação, e comprem.
Não é o caso (juro! faço porque quero e gosto, e até compro o livro), mas admitamos o cenário que vou descrever.
Entre mim e o autor ou a editora, haveria um acordo deste tipo: fazes publicidade e eu ofereço-te um programa da minha agência de viagens. Ou ofereço-te um porco inteiro do meu talho, se fosse o caso.
A interpretação mais normal, vulgar, é que a viagem e o porco façam parte da troca de favores entre amigos. Mas na realidade, haveria aqui pagamento porque a viagem e o porco têm um custo que deixa de entrar nos cofres respectivos.
Nesta senda expressiva de publicidade a que te referes, não haverá muitos casos semelhantes, em que é difícil acusar por um lado, e provar por outro, que não se trata de troca de favores entre amigos?
Claro que defendo que isto devia correr direitinho, que se devia cumprir e que quem não cumpre devia ser apanhado. Pago os meus impostos todos e acho uma injustiça que outros não o façam e tenham os mesmos benefícios, ou mais.
Mas defender isso não faz com que não reconheça que se praticam muitas artimanhas difíceis de desarmar.