web analytics

A língua não são palavras

146 4

Em tempos estudei inglês no instituto americano. Para além de ter gostado muito, nunca mais me esqueci do elogio dum professor.
Que apanhava mais que as palavras e gramática, entendia a cultura.

Ultimamente tenho lidado muito com malta do Brasil, e tem sido difícil. As palavras que se usam no dia para descrever as coisas nunca são as mesmas que cá. É o banheiro, o café da manhã, a tela, etc etc.
O tratamento por tu, em São Paulo é “você”. No inicio até pensei que era ‘respeito’, mas não. É o que se usa, é o costume.

Ontem recebi um email a agradecer-me a presteza.

As palavras podem ser iguais mas a língua não é a mesma.

4 comments

  1. Há dias, num transporte de Lisboa, apercebi-me que um estrangeiro estava com dificuldade em tratar de uns assuntos e disponibilizei-me para o ajudar.
    Na conversa fiquei a saber que é americano e que estará por cá durante vários meses para aprender a língua. Quer/precisa de aprender bem português para o que está a pensar fazer.
    Optou por aprender primeiro através da vivência do dia-a-dia e de aulas de conversação em grupo e individuais. Disse-me que a escrita e a gramática com intenção de aprender gramática, virão depois. E isto também porque há tempos, quando aprendeu alemão, fez esse percurso da escrita e regras e só depois o falar, e não lhe agradou por achar mais forçado. Também, teve algum contacto com a língua portuguesa através de convívio com um brasileiro e ficou um bocado baralhado com termos diferentes, como dizes.

    Fiquei a pensar na opção dele. Parece-me ser uma maneira inteligente porque mais natural. Nós aprendemos primeiro a falar do que a escrever e é dessa forma que vamos interiorizando as regras que são necessárias para nos entendermos e as expressões que usamos nas várias situações.

    O sistema linguístico tem um conjunto finito de palavras e de regras que permitem estabelecer a comunicação, mas não se esgota nesse preceituado e está em constante evolução. Basta pensar na alteração da grafia de algumas palavras ao longo do tempo (pharmacia, por exemplo) e na mudança de uso/significado que tem que ver com questões sócio-culturais.
    Sobre este último aspecto estava a evitar deixar aqui o exemplo de broche por causa da conotação sexual, mas é a palavra que agora está a ocorrer-me e é um bom exemplo porque o seu uso não mudou assim há tanto tempo. Por isso falo dele. Lembro-me bem de ser miúda e de se usar a palavra broche para designar uma pregadeira pequena que as mulheres colocavam nos casacos, ou a fechar um lenço ou uma blusa, sendo que esses alfinetes de tamanho maior eram designados por pregadeiras. Com o tempo, o termo broche passou a ter conotação sexual e actualmente se alguém disser esta palavra para designar o tal alfinete, não se livra de pelo menos uns risinhos.
    É engraçado que há um tempo, em conversa com uma brasileira que conheço bem, ela usou a palavra broche para referir o tal alfinete e expliquei-lhe que cá, agora, é interpretado de outra forma. Ela ficou muito surpreendida.

    Como em tudo, também as regras do sistema linguístico podem e devem ser flexibilizadas para se adaptarem às várias situações.
    Por exemplo, ali em cima disse “apercebi-me que” porque estou a escrever num contexto que pede linguagem informal; um linguajar próximo do discurso oral.
    Mas se estivesse a escrever um livro ou algo mais formal, devia dizer “apercebi-me de que”.
    Também era isto que queria dizer naquele post sobre os pontos e vírgulas que está para baixo. Inventou-se a gramática, o léxico, etc. e por isso eles existem, e são importantes para nos entendermos, mas a linguagem não é só isso, como aqui dizes.
    (Agora mencionei aqui porque me parece haver ligação com o tal post.)

  2. E que são estas coisas, as palavras? Olho para isto e vejo riscos pretos sobre um fundo branco.
    Pode ser só sujidade que dura até se passar um pano.
    Limpa só uma página em branco.

  3. O limpo e o asséptico não são desejáveis em tudo nem em todas as circunstâncias.

    1. Quando o cirurgião entra de bisturi na mão, dá jeito 😉

Comentário (nome, etc, é opcional)