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O tu

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Há uma categoria de autores, como o Jorge Palma, a que chamo os cantores do tu.
Cantam muito na segunda pessoa. Mas, claro que não é destinado a uma pessoa.

Se não sabe onde está a mãe (‘Onde estás tu mamã’), a melhor maneira de saber não é gravar um disco na expectativa que ela talvez ouça passado um ano, e lhe responda.

Quando o Jorge Palma quer dizer algo a uma pessoa, chega ao pé dela e diz: Jaquim, tu assim e assim.
O tu escrito numa letra é para toda a gente e ninguém em particular.

Mas é da natureza humana juntar os pontos, fazer associações e até um coxo numa cadeira de rodas vai achar que “tu quando corres” é destinado a si, porque tem uma mente que corre. Desconfio que seja esse o truque dos cartomantes.

O tu tem algo de mágico, de ligação emocional. Quando o palma canta ‘encosta-te a mim’, fico com vontade de me ir encostar ao ombro. Eu e mais dois milhões de portugueses, vai ser um ombro concorrido 🙂

A coisa também funciona com o nós. ‘A gente vai continuar/Enquanto houver estrada pra andar/Enquanto houver ventos e mar’ é para mim, sou parte do nós, com ele estrada fora.

E agora a água tónica no gin, uma música do ele.
Gosto tanto tanto que em tempos fiz uma montagem, mesmo que não tenha ficado grande coisa.

Acabou-se a angústia dos seus passos em volta
Dum amor com que ele apenas sonhou
Pela primeira vez tinha o futuro nas mãos
Abriu a janela e voou

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