A relação que temos com a terra não pode ser de amizade. A roupa e os sapatos servem para nos isolar do chão e ar que incomodam. Se gosto não quero trapos no meio. No que escolho é para estar sem nada.
Sei que toda a gente sonha. Se sonharem como eu sonho (que não é demais) como cabem esses sonhos todos dentro do mundo?
Abomino as relações virtuais com gente que se finge conhecer.
A amplitude do balançar dos braços tem a ver com amplitude do andar? Ontem vi uma mulher que não mexia os braços. É que ela mesmo assim, andava. Muito estranho.
Quero estar ao sol. Mesmo que não faça porra nenhuma, é melhor estar ao sol.
Há as coisas que percebo, há as coisas que não percebo e há as coisas que não quero perceber. Dizem que no meio é que está a virtude. No meio …
Entre ser a rainha da Roménia e a doninha da Doménia vou para casa da Laura.
De manhã nasço. À noite o meu epitáfio diz sempre o mesmo “Até amanhã”.
Hoje fiz algumas coisas pela primeira vez este ano. Mesmo sem querer pensei se seria tarde ou cedo.
Alguém inventou os meses e os anos, que só existem porque a gente lhes obedece como se fossem feitos de pedra.
Já um maluco ou outro se deve ter posto a contar os grão de areia que há na praia. Eu não conto porque não me serve para nada.
Há muitos malucos que todos os dias contam os dólares que há no banco. Eu não conto porque não me serve para nada.
Não há pretendente a poeta que não tenha escrito sobre a maravilha do mar e do sol. Então qual é problema do aquecimento global? É mais sol e mar. O que me chateia mesmo é o arrefecimento global.
Só gosto do que é grande dentro do que é pequeno. Do que se vê no que não se vê. As grandezas insufladas de ar são o tédio.
A UE já deve ter definido bem o que é uma unidade, não? Uma uva não pode ser do tamanho que quiser, sob pena de deixar de ser uva.
Já as casas podem variar mais. Os humanos são mais desmedidos que a natureza. E o amor? E o ódio? Quanto mais humano menos tamanho tem.
Haverá outra espécie animal que viva em sociedade com tanto cuidado para não se tocarem entre si?
Na praia a toalha tenta-se que fique o mais afastado possível de todos as outras. No metro, na rua, no trabalho o toque não é coisa bem vista. Mas consta que somos um animal social.
Tenho o rantanplan à minha frente. Passou-lhe um saco por cima. O saco seguiu e quando já ia a perder de vista o rantanplan levantou devagar a cabeça para ver o que se passava.
O ícaro era mesmo burro. Não se estava mesmo a ver. Se já daqui arde como arde…
Nunca fiz um cruzeiro. Por vezes quase que me deixo convencer. Depois vejo passar estas cidades sobre águas. Milhares de janelinhas aritmeticamente alinhadas. Buracos para humanos. Isto não é o mar.
Já repararam nos pombos a andar? São mesmo desengonçados. Ora se os pombos são o símbolo da paz, será que estamos a dizer que a paz é desengonçada?
As flores, sejam de estufa ou não, precisam de estrume. Mas todos querem ser flor e poucos ser estrume.
Apenas sobre alguns assuntos (são tantos ;))
O balançar dos braços…
Por razões menos boas tive que saber que os membros inferiores têm mais mobilidade, regeneram mais depressa, etc. Também está ligado ao facto de aprendermos mais depressa a andar do que a executar movimentos finos (os das mãos e braços são mais desta categoria).
Actualmente, devido a fazermos menos trabalhos que exigem menos força física, os braços têm menos força e amplitude.
Animal social…
O resguardo ou inibição do toque em contextos sociais não contraria a nossa condição de animais sociais. Isso tem mais a ver com a preservação da nossa intimidade e do privado, que é a outra face da condição social.
O problema é noutro tipo de interacção, como a ajuda e a disponibilidade para os outros. O problema é o arrefecimento global.
Não gosto de estar em situações de proximidade física com pessoas que não conheço, como essas da toalha da praia. Assim como não aprecio cumprimentos efusivos ao nível de toque com pessoas que acabo de conhecer ou com as quais apenas tenho ligações que decorrem da formalidade.
Agrada-me que as dimensões público/privado não se misturem.
O sol é sempre uma bênção 😉
Estou a lembrar-me que apesar de vivermos num país com tanto sol, é raro o português que não tem carência de vitamina D.
Já fiz cruzeiros, talvez cinco.
Em quase todos foi uma oportunidade de ir a certos sítios por um preço razoável e a reunir outras condições que serviam para mim. Não teria conseguido visitar alguns dos locais de outra forma.
Cada um faz o cruzeiro como quer. Isto significa que tanto pode seguir o standard, ir para onde todos vão; ou construir o seu programa dentro de um conjunto de possibilidades. Por exemplo, recordo-me que nos últimos nem cheguei a ver a cor da mesa que me reservaram para jantar, não fui a nenhuma festa, não participei em programas… O barco serviu-me para ir aos sítios, visitar algumas coisas por mim e outras em grupo, usufruir do mar como me apeteceu.
Sim, são buracos para humanos, como são as casas, os escritórios, as cabines dos comboios… inevitavelmente vivemos em buracos. E queremos viver em buracos.
Normalmente o que está no meio não é a virtude, mas um campo aberto para a indiferença.
Quando se olha para as coisas são tantas…
e fechando os olhos ainda são mais 🙂