Li onde não posso comentar sobre o estar em casa. Uma vez perguntaram-me o que faz com um local seja a nossa casa.
Não sei bem, só sei que se sente quando lá estamos. E quando não estamos queremos voltar.
Li onde não posso comentar sobre o estar em casa. Uma vez perguntaram-me o que faz com um local seja a nossa casa.
Não sei bem, só sei que se sente quando lá estamos. E quando não estamos queremos voltar.
Casa é o sítio onde somos nós. É onde podemos descansar do olhar dos outros e por isso podemos fazer o que não é possível e/ou não queremos fazer junto de outros que não escolhemos.
Há tempos li um artigo sobre as características das várias gerações de pessoas actualmente vivas.
Uma das que reparei foi a de a geração dos que têm actualmente 50/60 anos ter dificuldade em encontrar o lugar/posição no que respeita à posse de coisas, ao ter, às várias valorizações atribuídas ao ter bens, sobretudo imóveis.
Como é uma geração que passou por transformações muito rápidas nas sociedades (mercado de trabalho, tecnologias, etc.), há como que uma divisão entre os que se esforçam por perpetuar o modelo que viram nos pais, o da valorização da casa-património de família ou a casa para toda a vida, e aqueles que se situam no desprendimento em relação a estas questões, vivendo bem em qualquer casa.
Não raro, os primeiros consideram que os segundos não respeitam a memória da família ou que delapidam o património quando escolhem vender para investir noutro lugar ou utilizar o dinheiro de outra forma; e os segundos acusam os primeiros de serem agarrados ao passado e materialistas.
Acho que é mais o “de onde somos”, o que quer que isso seja. Posso fazer num hotel o mesmo que faço em casa, e muitas vezes faço.
Quando digo casa não quero dizer casa, é mais no sentido do “home”, pode ser uma cidade ou um país.
Como quando se regressa ao país de origem, e se diz “back home”.
Acho que tens razão sobre a ligação emocional às coisas, fruto do usa e deita fora.
Outra questão, que seria interessante de saber, é como anda a ligação material às coisas.
Ou seja, ser indiferente a possuir A ou B, não é o mesmo que a indiferença de possuir ou não.
Com o “onde somos nós” queria dizer com o sítio onde nos sentimos mesmo nós, confortáveis em duração alargada e não num momento esporádico, onde estão as nossas coisas que não são só coisas, mas também a familiaridade do lugar, os espaços que têm a forma do nosso corpo, os sítios habituais que fazem passos confortáveis, sem que tenhamos que pensar neles, acontecem.
Também vejo assim, a forma como te referes à propriedade, ao ter; há diferenças.
Aqueles segundos de que falo acima não são propriamente indiferentes ao possuir; são-no em relação ao que se circunscreve ao património que não cumpre uma função (de utilização ou de rentabilização).
A fraca ligação emocional às coisas (coisas mesmo, materiais), esse desprendimento, tem o sabor muito bom a liberdade.
Pois é isso o “onde somos” que é uma soma de tanta coisa que não sei definir. Porque não é só o hábito ou familiaridade, pode-se viver 30 anos num sitio e sentir que casa é algures.
EM certa medida o desprendimento é liberdade. Fica a pergunta, essa é liberdade que se queira?
Relativamente às coisas materiais acho que sim, que é liberdade que se queira, ou que eu queira.
Tento cultivar isso para mim, sobretudo naquela medida de não querer que o conforto do material – há uma zona de conforto associada ao material / lugar / tempo – não me impeça de tentar outros voos noutro lugar, se tiver essa vontade e oportunidade. É como que uma luta para que o ‘sonho’ esteja sempre à cabeça e que seja sempre maior que o ‘tijolo’.
(Mas também tenho a sensação que pode ser fácil resvalar deste tipo de desprendimento para outro mais geral, esse que já não considero desejável.)
Desprendimento, não só das coisas materiais, de tudo.
Gostar é abdicar de liberdade.