A gente se acostuma
O que é melhor?
Fazer algo glorioso e lindo todos os dias, e que por força da habituação vai ser ignorado.
Ou algo sem graça nenhuma mas inesperada, e que por isso toda a gente vai notar.
É verdade, a gente se acostuma
O que é melhor?
Fazer algo glorioso e lindo todos os dias, e que por força da habituação vai ser ignorado.
Ou algo sem graça nenhuma mas inesperada, e que por isso toda a gente vai notar.
É verdade, a gente se acostuma
Quando voltava do almoço, passei por um baldio.
De repente, a terra que estava no chão começou a levantar-se em direcção ao céu.
Parecia que aspirada lá do alto. E céu adentro, desapareceu.
Estranho, pensei eu com os meu botões, o que me vai acontecer mais?
Ver água cair do céu como se por milagre, e desaparecer pelo chão adentro?
ler com sotaque da alo-alo-landia
está-se nos sorrisos e nos dedos
cheira bem
cheira a tardes de domingo com sol. cheira a felicidade.
Escrevi isto só para mim, no dia 19 de Janeiro de 2009.
Olhei para o calendário, comparei os dois dias, esse e hoje. Em ambos um quadrado igual.
Num o número 11, e no outro o 19. Não me pareceu significante.
Olhando para mim, na medida em que as fotografias que guardo me dizem, também estou mais ou menos na mesma.
Se aquele dia é um dia como hoje, e se aquele é um eu como eu, como raio é que hoje não sou o mesmo?
Grita-me. Ama-me. Amo-te. No chão. No espaço. Abusa-me. Faz-me trapo. Atira-me sem pudor nem freio. Goza! Fode! Grita!
E depois sussurra-me ao ouvido o inconfessável.
Sou tudo o que não sou
Sou tudo o que não fiz
Sou único sou muitos sou mundo imundo sou tudo o que imagino invagino e imploro sou passos pedras e aves sou a roda que pede sou a beleza inglória sou o corredor que recua sou a carteira com barbas sou as pernas que crescem sou a rotunda estúpida sou a luz escura sou as mesas que se levantam sou as vozes que se dizem
E não se calam