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As folhas nunca se cansam

Num dia desta semana, estava no trabalho a olhar para fora e reparei nas árvores.
As folhas não paravam de se mexer, de abanar.

Nunca se sentam para descansar, não fazem pausas para almoço. E nessa noite, enquanto dormia, de certeza que elas lá estavam, agitando-se, imperturbáveis como se não houvesse tempo.

Por isso as àrvores são símbolos de confiança e de estabilidade. Derivando um pouco, fez-me lembrar um poema do Carl Sanburg
https://www.escritas.org/en/poema/599/grass

I am the grass.
Let me work.

As pessoas passam. A erva fica.

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Para viver

Para viverPara viver
livros e folhas
são tudo quanto preciso
Porque o primeiro reconhecimento
é o que me mereço
nestas folhas perdidas

E se por acaso outra coisa recordo
da sua falta
á minha mão retorno
sem nunca de lá ter partido

Outro eu de outro precisa
para de eu mesmo se apartar
mas se fosse possível ver claro
distinto desta massa indistinta
um pouco mais á frente
esse outro que vejo
esse mesmo sou eu

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Pêndulos

Pêndulos
Que todos os pêndulos sejam pontes
entre mim e parte incerta

Que todas as pontes sejam pernas
alvos de púrpura e cetim

Que todas as pernas sejam frutos
só sem mais nada ou ninguém

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Estou farto

Estou FartoEstou farto
desta ausência entre lençóis
do sono que há
no pesadelo que me sou
não levo veias nem vinho nem deus
só as unhas dentro dos bolsos
e o lugar do salgueiro

Ser mais terra que nunca
pedra de calçada com pés por cima
ter um buraco na sola
e haver mijo no chão
tenho nojo das manhãs
húmidas e solenes

Quando da noite me faço homem
a manhã da noite se faz dia
e eu não caibo nos restos
da noite que sobrou

Parto
e não há aqueduto que eleve
as águas que correm baixinho
como se fora choro de erva.

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Objecto

Objecto

Pegue-se num objecto, qualquer objecto
Aprenda-se a gostar dele
Construa-se sobre ele a teia das nossas fantasias
E sinta-se desapontado
Quando ele se comporta como mero objecto que é

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