Tanto para fazer e tão pouco tempo,
pouco a fazer em tempo nenhum
Disse Romualda Fernandes, deputada e negra, depois de ser eleita:
«A partir de agora nós, mulheres negras, cada vez que olharmos para a escadaria da Assembleia da República não nos iremos ver apenas com baldes e esfregonas para limpar: estamos lá dentro, temos voz e podemos sonhar.»
O que me grita nesta frase como regra imutável da vida é que as esfregonas por norma não têm voz nem podem sonhar.
Pouco me alegra que neste parlamento tenham estado três mulheres negras com voz e sonhos. Porque para a grande maioria, ao nascer mulher e negra terá como destino um balde e esfregona.
A alegria virá no dia em que voz e sonhos não sejam privilégio de poucos, e as esfregonas deste mundo sejam tudo o que podem ser.
Para dizer ‘Nunca digo nunca’ é preciso dizer nunca duas vezes
até a palava Nunca parece engraçada quando se olha bem para ela, Nun e Ca
ou talvez só esteja com sono e isto passe daqui a pouco
normalizou-se a ideia que os debates e eleições são um combate de boxe ou na melhor das hipóteses um jogo de xadrez
no final dos combates dá-se pontos e o que conseguiu deitar abaixo o inimigo é declarado vencedor
na verdade até aquela conjectura que aquilo serve para escolher quem pensa como nós, é torta como um prego torto
o principio da democracia representativa, é que os eleitos representam quem os elegeu, e votam em seu nome
em vez de nós os ouvirmos, não deveriam eles ouvir-nos a nós de modo a nos poderem representar?