Passei entre eles estrangeiro porém nenhum viu que eu o era. Vivi entre eles espião, e ninguém, nem eu, suspeitou que eu o fosse. Assim igual aos outros sem semelhança, irmão de todos sem ser da família.
Meus passos eram como os deles nos soalhos e nas lajes, o meu coração estava longe, ainda que batesse perto.
Viram-me passar na rua como se eu lá estivesse; mas quem sou não esteve nunca naquelas salas. Quem me conhece não tem ruas por onde passe.
Vivemos todos longínquos e anónimos; disfarçados, sofremos desconhecidos. A uns, porém, esta distância entre um ser e ele mesmo nunca se revela; para outros é de vez em quando iluminada, de horror ou de mágoa por um relâmpago sem limites; mas para outros ainda é essa a constância e quotidianidade da vida.
ah tu sabes
Do Abel onde o gajo ia diariamente atestar o depósito?
Estava agora a perguntar-me se ainda existirá? Tinha graça ir lá atestar o meu.