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E se fosse uma pessoa?

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Se soubesse que alguém me pegava no telefone sem eu saber e ia ver a minha lista de contactos e a as chamadas que fiz e recebi, não ia gostar. No mínimo.

Hoje fiz o download o meu histórico do facebook. Comecei por ficar maravilhado com a lista de contactos (nomes, números, anotações, empresas, cargos profissional, etc) que o facebook copiou do meu telefone. Foram meter o bedelho em tudo, mesmo de pessoas que nunca contactei pelo FB. Até lá está o número dum pintor a quem telefonei em tempos, e que se calhar nem tem facebook. Mesmo contatos que entretanto apaguei ou perdi, lá estão.

Pior ainda. O facebook registava todas as chamadas que faço e recebo. A quem liguei, quando e durante quanto tempo. Um exemplo do detalhe, que eles capturam:

E digo registavam que por causa dessas e de outras, não tenho a aplicação do facebook no telemóvel.

A pergunta é:
Com tanta legislação relativa à privacidade, sigilo e protecção de dados, como é que é legal que apps façam isto e que a Google deixe que as apps façam isto.

11 comments

  1. Não sei o que se anda a passar com o facebook… Sei que se fala, mas não sei exactamente que repercussões estão em jogo. (Se calhar devia saber…)
    A confissão da minha ignorância é até mais para dizer que não vou referir-me a isso.

    O controle de proximidade é sempre o que mais custa aceitar e também o que mais custa gerir, mesmo que tenha menos impacto na vida prática, e ao qual ‘obedecemos’ mais. E não é estranho que assim seja. O suporte interpessoal da proximidade é a âncora, é aquele reduto onde se erguem sem ser em cartilha, os direitos e deveres, os gostos, a confiança e outros princípios, etc., É a unidade que sobra depois do que serve para satisfazer necessidades que têm que ver com a sobrevivência.
    Daí que o exemplo da bisbilhotice do telefone feito por uma pessoa possa ser sentido como pior do que feito por ‘alguém’ sem rosto.
    (A bisbilhotice é sentida como mais grave, quanto mais próxima está a pessoa ou julgávamos que estivesse.)

    Tenho alguma experiência disto, em idades muito diferentes, em coisas muito diferentes, e com pessoas com ligações também muito diferentes, e também em situações diversas.
    (As pessoas reservadas, de tanto quererem preservar a sua privacidade, acabam por ser um bom isco. ‘Engraçado’ que esse até é o argumento utilizado pelos mexedores do que não devem.)
    O que sei é que não se volta a lidar com as pessoas que à revelia escavam nas nossas coisas porque na cabeça vai sempre persistir: em iguais circunstâncias, repete; se não tinha má intenção, porque não perguntou ou pediu? (Ah, e não é legítimo alimentar todo o tipo de curiosidade.)

    Se for o facebook, por exemplo, que não tem rosto algum, nem tenho de alinhar qualquer coisa da minha vida com ele, o impacto pessoal é muito menor.
    É semelhante à expressão “ninguém me/te conhece”, que se diz quando se vai para um sítio diferente e se quer justificar conduta diferente ou até desalinho na aparência. Porque não tem que se lidar com o jogo de expectativas e nós prestamos conta à linha da nossa proximidade, nem vivo nem trabalho nem bebo café com a pessoa facebook.

  2. Aqui há tempos um colega meu, quis saber a quem pertencia uma determinada matricula.
    Telefonou a um amigo na policia e ficou a saber a vida toda dele, incluindo onde vivia e se o cão tinha ou não pulgas.

    Lembro-me também dum caso dum fulano que por questões de saias através do sis teve acesso a todas as chamadas telefónicas de quem queria.

    Neste caso do Benfica, quando quiseram saber o que se passava nos tribunais, há sempre quem vá lá ver.

    Os tais com “cara”, são poucos porque precisam de acesso físico, e em muitos desses caso acaba-se por se saber,

    Os “sem cara” com acesso à tua vida, vão ser milhares, para não dizer milhões. Podes dizer,quero lá saber que um chinês Xing-Haui-Ping saiba que chamadas faço.

    Mas se te ligarem 5 vezes por dia para te venderem sabonetes, já te pode chatear. Como obtiveram o teu número? … eu sei.

    E em quantas mais bases de dados isto estiver, mais provável é que que alguém que conheças lhe tenha acesso. Ou um maluco que não conheças.

    O que está na net, não chega só aos “sem cara”, Chega também aos “com cara”, a diferença e´que não temos forma de saber que chegou.

    1. O início do teu comentário levanta outra questão difícil de controlar porque muitas vezes não se consegue provar e que é a da quebra do sigilo profissional.

      Outro exemplo.
      Há tempos apercebi-me de alguém (ab)usar de ligações que tem a nível pessoal para chegar a informações sobre uma conta bancária da qual não faz parte.

      Nestes casos, não é apenas quem fornece que está a errar. Há responsabilidade moral por parte de quem questiona, já que sabe estar a colocar o outro lado numa situação desconfortável.

      Ainda na linha da moral, mas sem essa carga do sigilo profissional, é difícil encontrar pessoas que respeitem a confiança depositada sobre informação pessoal que pediram para guardar. É mais comum que a quem se confiou acabe por dizer, quer por não resistir à pressão que lhe fazem, quer por razões de popularidade no grupo que momentaneamente vê aí melhor aceitação por distribuir dados, quer por se substituir a quem lhe confiou a fazer uma avaliação (‘não vejo mal que se saiba e por isso digo’).

      Sobre facebook e ‘outras nets’…
      Faz-me confusão que se continue a distribuir informação sobre a vida pessoal, etc., em primeiro lugar por razões de segurança.
      Por outro lado, é cansativa a ilação rápida que se vê tirar do que circula. Recordo-me de uma vez ter publicado no fb uma foto de um local e em dois tempos chegar-me ‘estiveste cá e não disseste nada; então o que foste visitar; e a que horas, etc, etc’. A foto tinha dois anos e tratava-se de uma paisagem, mas imediatamente foram ali vistos os meus passos a compor esse dia…

      Parece-me que seria um bem cultivar-se mais serenidade para olhar o que vai aparecendo (falo destas coisas pessoais; as causas a que devemos reagir é outro assunto) e refrear a curiosidade para entrar na vida dos outros. A falta disto, dessa ‘calma’, e consequentes embrulhadas abusivas entre o virtual e o real, têm vindo a comprometer a solidariedade de primeiro nível, a pessoal e de grupo, a par da ilusão que se está menos só porque se está sempre ‘ligado’.

      (Isto já vai assim um bocado ao lado do assunto inicial, mas as conversas são assim ;))

      1. “Seria um bem cultivar-se mais serenidade para olhar”

        Parece-me bem 🙂

  3. Esta é uma história parecida com a do Luís.
    Há uns anos, bateu-nos à porta um ex cmarada da tropa do ‘meu’. Tinha um amigo na polícia a quem ofereceu uma garrafa de whisky e ficou a saber todos os contactos do ex camaradas, para organizar uma almoçarada. Já tinham alinhado mais de cem pessoas e algumas ‘esposas’.
    Conversa tida através do video porteiro.
    Fiquei furiosa.
    Também não tenho o fb no telemóvel e não ponho fotografias, não ser de fotógrafos e com o nome do mesmo.

    1. Isso do bater à porta e meter policia, fez-me lembrar uma vez, que me bateram à porta às tantas da noite/manhã, E era a policia… Não, não fui preso 🙂

  4. desculpem mas que cambada de ingénuos! acham que as apps, fb’s, googles e etc’s existem para nos servir assim sem darmos nada em troca? estou em vias de desinstalar o whatsapp com muita pena pq era uma boa maneira de comunicar p amigos distantes. é q uma pessoa atende uma qq chamada e pimblas estamos caçados. e por falar em ingénuos, no tempo em q me dedicava a blogues havia umas aplicações p contar visitantes q dps devolviam IP’s hora de entrada de saída, de onde veio, etc ahhhh pior só mm a velhota q afasta a cortina cada vez q passamos à sua janela

    1. Mónica, costuma dizer-se que ninguém dá nada a ninguém… no negócio e arredores, que noutro tipo de relação, sim. (Também há aquelas situações/ligações em que parece ser gratuito, mas não é. Referia-me às que são, um nicho reduzidíssimo e por isso a cultivar e a acarinhar muito, acho.)

      E como o assunto é negócio, claro que quem lá anda tem de dar alguma coisa. Mas continuamos com capacidade de escolher distribuir à cabeça um certo tipo de informação ou facilitar caminhos para lá chegar. Era a este tipo de defesa que me referia, que julgo nada ter a ver com ingenuidade. Não facilitar, ter cautela, queria dizer.

      Por outro lado, ainda à escolha de não usar a net, uma opção que não quero para mim (em termos profissionais era impensável; nem daria para escolher). Não quero porque ficaria mais isolada, com menos acesso a conhecimento e também mais refém de passos que é preciso dar para tratar das coisas. Sentir-me-ia a perder liberdade… E isto até é engraçado quando ao mesmo tempo sei que as possibilidades de controle aumentam. Pois, por isso vejo essa necessidade de equilibrar o meu jogo de oferta/procura nessa matéria.

      Atenção, essa velhota está em vias de extinção e até pode ter graça senão for invasiva ;)… se calhar é a forma que encontra de se sentir ligada ao mundo.
      As próximas velhotas (e tenho de começar a pensar neste estatuto para mim ;)) têm outras cortinas… Serão estas cortinas melhores?

    2. E dei ali um erro daqueles valentes… Que vergonha 😉 Ainda “há” escolha, claro que era o que queria dizer no início do terceiro parágrafo.

    3. Pois, Fui mais ingénuo do que pensava. Sei perfeitamente que sou o produto que essa companhias vendem.
      Mas nunca pensei que fossem ao ponto de registar anos de nomes e números de todas as minhas chamadas.
      Que só as policias do estado fizessem isso. Afinal não.

      Muitos acharão que não se importam muito porque não têm nada a esconder.
      Até ao dia em que lhes estragam as férias, por serem proibidos de voar devido a um comentário brincalhão a dizer que vão lá rebentar aqui tudo.
      E o pior é que as ideias próprias escasseiam. Só sobram as ideias que nos mostram.

      Quando vieram buscar os comunistas,
      não disse nada, porque não sou comunista

      Quando eles vieram buscar os sindicalistas,
      não disse nada, porque não sou sindicalista

      Quando eles buscaram os judeus,
      não disse nada, porque não sou judeu

      Quando me vieram buscar,
      já não havia ninguém para protestar

      1. Há bocado li no jornal um artigo sobre esta questão do FB…
        Quando um produto é gratuito, somos nós o valor – dizia-se a certa altura.

        Isso de dizerem que não se tem nada a esconder e que se é um livro aberto e coisas do género, são parvoíces que se atiram para o ar.
        Tenho a esconder, sim, na medida em que defendo a minha privacidade e quero escolher com quem partilho as minhas coisas. Não faço ao pé de toda a gente aquilo que faço apenas ao pé de alguns que escolha ou que faço sozinha, e isto escondo do mundo, sim.

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