Não sei porquê. Não é meu hábito.
Vi o Campo Grande vazio. Dentro de uma hora vai estar cheio de carros e coisas. E pessoas que vão para o trabalho. E lá no meio, num Renault Clio azul, está alguém que hoje chorou. Imagino. C’est ci bon.
Passei agora por um homem deitado no passeio. Cara no chão. Talvez se chame João Carlos. Estaria morto? C’est ci bon passar num carro com ar condicionado.
Como eu, quantos moralistas andam por aí a bater punhetas com palavras em blogs obscuros?
A revolução começa em mim. Já alguém deve ter dito isto, espero.
Ah, confirma-se que Lisboa amanhece. E é linda.
Até parece que não tem renaults clios e joão carlos nas suas entranhas. Até parece que não me tem a mim.
Cheguei à rua onde trabalho. Não a reconheci.
No café as empregadas são as mesmas, fazem os mesmos gestos que faziam ontem no habitual das dez horas.
Não deveriam estar habitadas por algo de nocturno? Como podem pertencer a dois mundos tão diferentes com tal indiferença?
Quando saí de casa havia anjos nas paredes e as folhas não caiam.
(escrito ao som de Genevieve do Perry Blake, este gajo faz-me caracóis na alma)
Agora passa mais uma emissão do Vidro Azul. Ouço-me ao espelho.