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Onde há respiração respiro

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casas

limpeza de drafts (ie mau demais para publicar, bom de mais para apagar e que um dia uma melhor inspiração o salvará (mas não salvou))

1 comment

  1. Assim que olhei e li, lembrei-me, por oposição, de um belo poema da Rosa Lobato de Faria, que integra o livro “O sétimo véu”:

    Lar é onde se acende o lume e se partilha mesa e onde se dorme à noite o sono da infância.
    Lar é onde se encontra a luz acesa quando se chega tarde.
    Lar é onde os pequenos ruídos nos confortam: um estalar de madeiras, um ranger dos degraus, um sussurrar de cortinas.
    Lar é onde não se discute a posição dos quadros, como se eles ali estivessem desde o princípio dos tempos.
    Lar é onde a ponta desfiada do tapete, a mancha de humidade no tecto, o pequeno defeito no caixilho, são imutáveis como uma assinatura conhecida.
    Lar é onde os objectos têm vida própria e as paredes nos contam histórias.
    Lar é onde cheira a bolos, a canela, a caramelo.
    Lar é onde nos amam.

    Disse “por oposição”, mas não é necessariamente assim. Ali dentro, nesta amálgama, podem existir lares.

    O primeiro livro de poesia da Maria do Rosário Pedreira – “A casa e o cheio dos livros” – também tem textos bons para encaixar aqui. Gosto especialmente deste:

    Lê , são estes os nomes das coisas que
    deixaste – eu, livros, o teu perfume
    espalhado pelo quarto; sonhos pela
    metade e dor em dobro, beijos por
    todo o corpo como cortes profundos
    que nunca vão sarar; e livros, saudade,
    a chave de uma casa que nunca foi a
    nossa, um roupão de flanela azul que
    tenho vestido enquanto faço esta lista:

    livros, risos que não consigo arrumar,
    e raiva – um vaso de orquídeas que
    amavas tanto sem eu saber porquê e
    que talvez por isso não voltei a regar; e
    livros, a cama desfeita por tantos dias,

    uma carta sobre a tua almofada e tanto
    desgosto, tanta solidão; e numa gaveta
    dois bilhetes para um filme de amor que
    não viste comigo, e mais livros, e também
    uma camisa desbotada com que durmo
    de noite para estar mais perto de ti; e, por

    todo o lado, livros, tantos livros, tantas
    palavras que nunca me disseste antes da
    carta que escreveste nessa manhã, e eu,

    eu que ainda acredito que vais voltar, que
    voltas, mesmo que seja só pelos teus livros.

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