Em 1997 Mary Schmich escreveu esta crónica para o Chicago Tribune, Advice, like youth, probably just wasted on the young
Live in New York City once, but leave before it makes you hard.
Live in Northern California once, but leave before it makes you soft.
Travel.
Keep your old love letters. Throw away your old bank statements.
Stretch.
É uma daquelas coisas sobre as quais se pode dizer mais que não há o certo e o errado, que estão muito dependentes da forma como cada um se sente bem.
Para mim faz-me sentido não me demorar onde o que existe me traz mais mal do que bem (e este onde não se refere apenas ao lugar), quer seja pelo peso ou pela leveza.
As sensações que o mesmo nos desperta (lugar, pessoas, etc.) podem mudar ao longo do tempo, e para mim também me faz sentido estar desperta para isso e tentar provocar a mudança que acompanhe as sensações que procuro. Implica não dar nada como definitivo ou acabado. Vou dar um exemplo simples: da última vez que mudei de casa, ouvi várias vezes a pergunta se era definitivo ou para sempre, e a minha resposta foi a de que naquela altura era o lugar; mais à frente, logo se vê.
Com as memórias funciono de forma idêntica. Se me trazem mais mal do que bem, ou se estão no patamar da completa indiferença, vão fora. E procuro fazê-lo consoante o que me provocam e não condicionada por outros.
Estou a lembrar-me, em abstracto, da associação da última frase às diversas formas de lidar com as memórias do capítulo do amor romântico.
Há quem ache e exerça pressão para que as ‘cartas de amores antigos’ (não me refiro apenas às cartas literalmente) devem ir para o lixo, que não devem ser conservadas essas memórias e que se sente inseguro perante o histórico. A minha opinião é a de que se deve ser subtil com o histórico romântico, o nosso e o do outro. Cada um tem o seu, que só deve ser partilhado no que for relevante para o que se está a construir, e a exibição de pontas desnecessárias (coisas físicas ou não) em nome de lisura ou transparência (diz-se, mas não se trata disso), é só isso, uma exibição desinteressante.
Repara no pano para mangas que dá duas coisas tiradas meio à sorte do recital de ‘conselhos’. O giro daquilo é passa por um montão de coisas mistura o leve com o pesado e trata tudo com a mesma leveza.
As cartas de amor são para guardar, que fazem parte do que somos. Mas manda a sensatez que sejam só nossas.
A parte inicial do comentário fez-me lembrar uma coisa que pus aqui um dia desses ‘Mal tenhas um plano, deixas de ser revolucionário’