HORA ABSURDA “O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas… Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso… E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso… Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte… O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto… Minha idéia de ti é um cadáver que o mar traz à praia…, e entanto Tu és a tela irreal em que erro em cor a minha arte… E eu deliro… De repente pauso no que penso… Fito-te E o teu silêncio é uma cegueira minha… Fito-te e sonho… Há coisas rubras e cobras no modo como medito-te, E a tua idéia sabe à lembrança de um sabor de medonho…
Para que não ter por ti desprezo? Por que não perdê-lo?… Ah, deixa que eu te ignore… O teu silêncio é um leque- Um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo, Mas mais belo é não o abrir, para que a Hora não peque…”
(…) Eis o lugar em que o centro se abre ou a lisa permanência clara, abandono igual ao puro ombro em que nada se diz e no silêncio se une a boca ao espaço. Pedra harmoniosa do abrigo simples, lúcido,unido,silencioso umbigo do ar. Aí o teu corpo renasce à flor da terra. Tudo principia.
o silêncio é o
precioso líquido
onde mergulha
o que as palavras
não se atrevem
a dizer.
Definitivamente desse mal não padeces e nem por isso sacrificas a eloquência.
o Silêncio é o feijão da Alma.
A solidão é o arroz.
HORA ABSURDA
“O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas…
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso…
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso…
Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte…
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto…
Minha idéia de ti é um cadáver que o mar traz à praia…, e entanto
Tu és a tela irreal em que erro em cor a minha arte…
E eu deliro… De repente pauso no que penso… Fito-te
E o teu silêncio é uma cegueira minha… Fito-te e sonho…
Há coisas rubras e cobras no modo como medito-te,
E a tua idéia sabe à lembrança de um sabor de medonho…
Para que não ter por ti desprezo? Por que não perdê-lo?…
Ah, deixa que eu te ignore… O teu silêncio é um leque-
Um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo,
Mas mais belo é não o abrir, para que a Hora não peque…”
(Fernando Pessoa)
(…)
Eis o lugar em que o centro se abre
ou a lisa permanência clara,
abandono igual ao puro ombro
em que nada se diz
e no silêncio se une a boca ao espaço.
Pedra harmoniosa
do abrigo simples,
lúcido,unido,silencioso umbigo
do ar.
Aí
o teu corpo
renasce
à flor da terra.
Tudo principia.
António Ramos Rosa
“Oiço correr a noite pelos sulcos
do rosto-dir-se-ia que me chama,
que subitamente me acaricia,
a mim,que nem sequer sei ainda
como juntar as sílabas do silêncio
e sobre elas adormecer.”
…
Olha que ás vezes um silência comprometedor pode fazer muito ruido… Ha pois é…
umas vezes demais outras… de menos.