Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pénis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.
Sexta-feira à noite
em algum lugar do planeta
mulheres (re)encontram suas almas.
é preciso
essa a beleza e mistério de qualquer dia da semana, em qualquer lugar a cada momento tudo pode acontecer, e nada pode acontecer
assim é a vida
dou graças por tudo o que cada dia me dá
Às vezes é difícil, mas é bom
sei que pode ser muito, mas para padrões ocidentais não é
estou ao relento a receber um copo de tinto, e ouço a niobe
musica para pôr a alma a dançar
que quero mais? estou feliz.
Quando a alma dança, sempre há felicidade
Olha é isso mesmo, não digo mais nada. Disseste tudo.
Então estamos de acordo 🙂
É um dos poemas fortes, impactantes, da Marina.
Gosto deste lado da escrita dela, da poesia que não é doce e que tem qualquer coisa de “intervenção”, de desassossego, inquietação.
é a crueza de olhar e dizer