Acho curioso ouvir coisas deste género: “eu não mudei; o que mudou é o que está à minha volta.” Ainda há pouco tempo apanhei isto numa entrevista.
Mas se o que está à volta mudou e continua a viver normalmente e sem colisões de maior, teve de se adaptar. A adaptação não é mudança?
A mudança individual é mais das vezes vista como algo negativo, fazendo-se a apologia da imutabilidade. A imutabilidade está no caminho das ‘certezas’ e mais livre de riscos, e o controle dá-nos segurança.
A apologia da imutabilidade só costuma ser contrariada quando se trata de algo extraordinário que estava do lado errado. Por exemplo, é dito, é bem visto, faz-se essa apologia, etc. que um presidiário mude, que é sinal de regeneração. Porque o crime é mais vezes ocasional e acidental. E quando não é, há regeneração? (Pela minha parte, tenho de pensar e estudar mais o assunto.)
Depois há uma ordem mais fina ao nível do individual, que é difícil de mudar.
Características mais estruturais que ao longo dos anos norteiam o comportamento, mas sem que entrem no desviante-criminoso.
Por exemplo, é difícil que uma pessoa marcadamente manipuladora deixe de o ser. Às vezes faz intervalos à custa de medos de que possa sentir-se ameaçada, mas a tendência é para que volte a esse registo quando encontra uma aberta.
Ao nível das relações interpessoais de maior proximidade é difícil fazer tábua rasa de atitudes fortemente lesivas que alguém tenha tido connosco, e até se usa a expressão “estar de pé atrás”. Não se acredita facilmente que possa ter mudado.
Numa resposta àquele post dos sonhos, diz-se que o medo e a esperança são os elementos mais galvanizadores, o que mais faz mover as pessoas. Não fala em mudança, mas interpretei que medo/esperança é o que mais incita para fazer mudanças.
É mais generalizado e mais linear que a esperança leve à mudança, às vezes só uma ideia vaga de algo melhor.
O medo pode levar à mudança ou pode travar essa possibilidade. Pessoas em situações semelhantes e com possibilidades idênticas de mudar com estrelinha parecida de esperança lá à frente, umas paralisam à conta do medo enquanto outras avançam. Talvez o mundo até esteja mais dividido do que parece entre o estático e quem quer andar mais mesmo ‘sem precisar’.
Pensei em isolar cada um dos elementos…
Mudar na esperança de…, pode ou não conter medos, que se vão queimando a cada etapa. Mas a esperança pode caminhar sozinha.
Mudar por medo de… tem esperança lá à frente. O medo precisa da esperança para caminhar. Medo sem esperança prende.
Genericamente, agrada-me o lado que vê o mundo – o seu mundinho e o maior-, como não acabado, não cristalizado e sem negar a possibilidade de acontecer. Talvez acontecer seja o verbo-sinónimo mais próximo de viver.
Acho curioso ouvir coisas deste género: “eu não mudei; o que mudou é o que está à minha volta.” Ainda há pouco tempo apanhei isto numa entrevista.
Mas se o que está à volta mudou e continua a viver normalmente e sem colisões de maior, teve de se adaptar. A adaptação não é mudança?
A mudança individual é mais das vezes vista como algo negativo, fazendo-se a apologia da imutabilidade. A imutabilidade está no caminho das ‘certezas’ e mais livre de riscos, e o controle dá-nos segurança.
A apologia da imutabilidade só costuma ser contrariada quando se trata de algo extraordinário que estava do lado errado. Por exemplo, é dito, é bem visto, faz-se essa apologia, etc. que um presidiário mude, que é sinal de regeneração. Porque o crime é mais vezes ocasional e acidental. E quando não é, há regeneração? (Pela minha parte, tenho de pensar e estudar mais o assunto.)
Depois há uma ordem mais fina ao nível do individual, que é difícil de mudar.
Características mais estruturais que ao longo dos anos norteiam o comportamento, mas sem que entrem no desviante-criminoso.
Por exemplo, é difícil que uma pessoa marcadamente manipuladora deixe de o ser. Às vezes faz intervalos à custa de medos de que possa sentir-se ameaçada, mas a tendência é para que volte a esse registo quando encontra uma aberta.
Ao nível das relações interpessoais de maior proximidade é difícil fazer tábua rasa de atitudes fortemente lesivas que alguém tenha tido connosco, e até se usa a expressão “estar de pé atrás”. Não se acredita facilmente que possa ter mudado.
Numa resposta àquele post dos sonhos, diz-se que o medo e a esperança são os elementos mais galvanizadores, o que mais faz mover as pessoas. Não fala em mudança, mas interpretei que medo/esperança é o que mais incita para fazer mudanças.
É mais generalizado e mais linear que a esperança leve à mudança, às vezes só uma ideia vaga de algo melhor.
O medo pode levar à mudança ou pode travar essa possibilidade. Pessoas em situações semelhantes e com possibilidades idênticas de mudar com estrelinha parecida de esperança lá à frente, umas paralisam à conta do medo enquanto outras avançam. Talvez o mundo até esteja mais dividido do que parece entre o estático e quem quer andar mais mesmo ‘sem precisar’.
Pensei em isolar cada um dos elementos…
Mudar na esperança de…, pode ou não conter medos, que se vão queimando a cada etapa. Mas a esperança pode caminhar sozinha.
Mudar por medo de… tem esperança lá à frente. O medo precisa da esperança para caminhar. Medo sem esperança prende.
Genericamente, agrada-me o lado que vê o mundo – o seu mundinho e o maior-, como não acabado, não cristalizado e sem negar a possibilidade de acontecer. Talvez acontecer seja o verbo-sinónimo mais próximo de viver.
E as nossas mudanças são, muitas vezes, tão à toa como a das folhas.