Detesto ouvir isso.
Assim como outras alusões do género, das quais detesto com todas as minhas forças, esta, quando é usada com o fim de machucar alguém: “Deve ter/tem, falta de qualquer coisa…”
Antes de responder a essa questão do tabu, a como interpreto e me posiciono…
Vinha agora no carro, com o rádio ligado, e os locutores referem-se a um qualquer episódio relacionado com o futebol (a minha cabeça é péssima a apanhar as coisas da bola… tudo demasiado complexo :)), em que alguém se irritou com o facto de outro alguém ter gesticulado, e se calhar irritado, num jogo, e que o Abel Xavier terá dito se agora tem de se obrigar a ver os jogos com algemas nas costas. E o locutor brinca com a situação e diz “Abel Xavier com algemas nas costas… será que ele está a pensar numa cena com algemas nas costas… o malandreco!”
É um exemplo de alusão ao tal “departamento”, e que tem graça. Não vasculha na vida de ninguém, não machuca, não é ofensivo… perfeitamente inócuo. Também acho graça se fizerem brincadeiras destas comigo.
Quero com isto dizer que também se pode brincar com este terreno, como com todos. Normalmente a diferença está, como em todos os “departamentos” da brincadeira, se tem por objectivo ofender ou até só ser desagradável, às vezes de uma forma quase ténue de intimidação, a querer deixar a pessoa enrascada, sem resposta.
Isso é sempre de baixo nível, mas é mais de baixo nível quando se usam referências ao que se pressupõe os outros fazerem ou não fazerem quando a pele se encontra com outra. E é mais de baixo nível porque quando a pele brinca com outra, essas brincadeiras não acontecem em público, e o que acontece no privado e ainda por cima é íntimo, não se pode provar nem é suposto ser discutido com quem não é implicado.
Ora, quando alguém quer machucar e usa expressões como aquela que disse detestar com muita força (e eu já ouvi mais do que uma vez discussões ligadas a trabalho em que uns dizem para outras, de forma mesmo feia, aquilo do “deves é ter falta de ‘qualquer coisa’…), está a reduzir o campo de argumentação do outro e a querer feri-lo no campo da intimidade. Normalmente com plateia, e ai daquele que não se ria, que fica fora do grupo, o que torna as coisas mais perversas.
Sim, é tabu e é um bem que o seja. (Só não é um bem se tiver que falar disso com um médico, por exemplo, e não conseguir por causa do pudor, etc.)
Este tipo de intimidade não é para andar aí a ser espalhada. Nem falada em locais públicos, nem com pessoas mais próximas, nem com amigos… É uma intimidade para se viver e isso implica encanto, mistério, o bonito só porque sim… e as explicações e conversas descarnam a intimidade, remetendo-a para a ginástica ou coisa parecida.
Mesmo com quem se tem essa intimidade, é bom manter essa “áurea”. (Quando oiço coisas deste género “ah, nós discutimos tudo, o que um gosta e não gosta…”, etc (nessa área íntima), na minha cabeça surge logo “rica coisa… será que têm uma lista a seguir? :)”)
Manter essa áurea de mistério remete para algo intocável, que não é para conversar ou explicar, algo que se aproxima do conceito de sagrado. Daí considerar um bem ser tabu.
Por causa do final da resposta que deste à inconfessável.
Acho normal e bom não haver expressão adequada, ou haver dificuldade em encontrar uma, que se refira às possibilidades de encontros de uma pele com outra pele e às brincadeiras que acontecem. Acontecer, é mesmo isso. Fazer, praticar… errado, sem sentido. (A não ser que se tenha de cumprir um plano escrupuloso para fazer bebés.)
É a parte da vida que é para acontecer. Verbalizar tudo, só estraga.
Não foi o abel xavier. Ouvi isso, mas apreciando o kinky, não incluo gajos com algemas nas costas, portanto adiante 🙂
O abel xavier para além de ser o africano mais louro que conheço, ficou nos anais do futebolês como o gajo que analisou em profundidade o significado da palavra treinador. Treinador é aquele que treina a dor.
A proposito dos tabus e dos pruridos. Ali em cima ia escrever “o preto mais louro”. Depois pensei, preto pode ser ofensivo. E ele é mesmo preto? Fui ao google. Ele é de Moçambique. Ia escrever o moçambicano mais louro. Depois pensei há moçambicanos brancos e louros de nascença. Caraças, ou tenho que pensar menos ou preocupar-me menos, ou ter mais tempo. Sei lá. 🙂
“Manter essa áurea de mistério remete para algo intocável, que não é para conversar ou explicar, algo que se aproxima do conceito de sagrado. Daí considerar um bem ser tabu.”
Há ai um lado de razão, mostrar o tornozelo é um mundo em que o resto é mistério. Quando o tabu é desejo.
Mas há outro lado, o lado da culpa, o lado da repressão de sentimentos etc e tal. Quando o tabu é medo.
A verdade é que não há verdade nisto, nas pessoas e sentimentos não se pode fazer regras.
Vamos navegando. Às vezes com mais rochedo, às vezes com mais mar.
As pessoas, em geral, nos restaurantes, não têm cuidado nenhum. Machucam pessoas e tantas vezes com os nomes completos e às vezes até conhecemos quem está a ser machucado e não está presente.
Não Luis, não tem graça nenhuma esse tipo de pudor exactamente, como tu dizes, por esse pudor ainda ter mais peso no que se quer insinuar.
Primeiro o achar graça, era no sentido de achar curioso, e não de rir. Como quem diz, engraçado que os pinos são todos azuis e o do canto é amarelo. Ninguém se ri ao olhar para o pino amarelo.
Segundo, naquela frase há duas questões.
Uma o insultuoso que pode ser aquela frase, concordo plenamente com isso.
A segunda tem a ver com o tabu que envolve o sexo.
A pessoa emperrou ali não foi por causa de poder ser insultuoso, foi porque uma das consequências do tabu é que não há palavra adequada para todas as circustâncias e audiências.
Posso dizer a qualquer pessoa: vamos beber um copo?
Mas se disser vamos foder? Uns consideram vulgar e grosseiro.
Se disser vamos fazer amor? Outros vão achar lamechas.
Fazer sexo, parece que uma tarefa a fazer, como fazer sopa.
Copular é simplemente ridiculo.
Vamos rolar no palheiro, e que se lixe 🙂
Detesto ouvir isso.
Assim como outras alusões do género, das quais detesto com todas as minhas forças, esta, quando é usada com o fim de machucar alguém: “Deve ter/tem, falta de qualquer coisa…”
não deixa de ter piada que se tenha tanto pudor em dizer as palavras da coisa mais natural e que move meio mundo
e será que o tabu também contribui para que tenha peso e que se use para provocar, tal como dizes
Antes de responder a essa questão do tabu, a como interpreto e me posiciono…
Vinha agora no carro, com o rádio ligado, e os locutores referem-se a um qualquer episódio relacionado com o futebol (a minha cabeça é péssima a apanhar as coisas da bola… tudo demasiado complexo :)), em que alguém se irritou com o facto de outro alguém ter gesticulado, e se calhar irritado, num jogo, e que o Abel Xavier terá dito se agora tem de se obrigar a ver os jogos com algemas nas costas. E o locutor brinca com a situação e diz “Abel Xavier com algemas nas costas… será que ele está a pensar numa cena com algemas nas costas… o malandreco!”
É um exemplo de alusão ao tal “departamento”, e que tem graça. Não vasculha na vida de ninguém, não machuca, não é ofensivo… perfeitamente inócuo. Também acho graça se fizerem brincadeiras destas comigo.
Quero com isto dizer que também se pode brincar com este terreno, como com todos. Normalmente a diferença está, como em todos os “departamentos” da brincadeira, se tem por objectivo ofender ou até só ser desagradável, às vezes de uma forma quase ténue de intimidação, a querer deixar a pessoa enrascada, sem resposta.
Isso é sempre de baixo nível, mas é mais de baixo nível quando se usam referências ao que se pressupõe os outros fazerem ou não fazerem quando a pele se encontra com outra. E é mais de baixo nível porque quando a pele brinca com outra, essas brincadeiras não acontecem em público, e o que acontece no privado e ainda por cima é íntimo, não se pode provar nem é suposto ser discutido com quem não é implicado.
Ora, quando alguém quer machucar e usa expressões como aquela que disse detestar com muita força (e eu já ouvi mais do que uma vez discussões ligadas a trabalho em que uns dizem para outras, de forma mesmo feia, aquilo do “deves é ter falta de ‘qualquer coisa’…), está a reduzir o campo de argumentação do outro e a querer feri-lo no campo da intimidade. Normalmente com plateia, e ai daquele que não se ria, que fica fora do grupo, o que torna as coisas mais perversas.
Sim, é tabu e é um bem que o seja. (Só não é um bem se tiver que falar disso com um médico, por exemplo, e não conseguir por causa do pudor, etc.)
Este tipo de intimidade não é para andar aí a ser espalhada. Nem falada em locais públicos, nem com pessoas mais próximas, nem com amigos… É uma intimidade para se viver e isso implica encanto, mistério, o bonito só porque sim… e as explicações e conversas descarnam a intimidade, remetendo-a para a ginástica ou coisa parecida.
Mesmo com quem se tem essa intimidade, é bom manter essa “áurea”. (Quando oiço coisas deste género “ah, nós discutimos tudo, o que um gosta e não gosta…”, etc (nessa área íntima), na minha cabeça surge logo “rica coisa… será que têm uma lista a seguir? :)”)
Manter essa áurea de mistério remete para algo intocável, que não é para conversar ou explicar, algo que se aproxima do conceito de sagrado. Daí considerar um bem ser tabu.
Por causa do final da resposta que deste à inconfessável.
Acho normal e bom não haver expressão adequada, ou haver dificuldade em encontrar uma, que se refira às possibilidades de encontros de uma pele com outra pele e às brincadeiras que acontecem. Acontecer, é mesmo isso. Fazer, praticar… errado, sem sentido. (A não ser que se tenha de cumprir um plano escrupuloso para fazer bebés.)
É a parte da vida que é para acontecer. Verbalizar tudo, só estraga.
ok bola não é contigo 🙂
Não foi o abel xavier. Ouvi isso, mas apreciando o kinky, não incluo gajos com algemas nas costas, portanto adiante 🙂
O abel xavier para além de ser o africano mais louro que conheço, ficou nos anais do futebolês como o gajo que analisou em profundidade o significado da palavra treinador. Treinador é aquele que treina a dor.
A proposito dos tabus e dos pruridos. Ali em cima ia escrever “o preto mais louro”. Depois pensei, preto pode ser ofensivo. E ele é mesmo preto? Fui ao google. Ele é de Moçambique. Ia escrever o moçambicano mais louro. Depois pensei há moçambicanos brancos e louros de nascença. Caraças, ou tenho que pensar menos ou preocupar-me menos, ou ter mais tempo. Sei lá. 🙂
“Manter essa áurea de mistério remete para algo intocável, que não é para conversar ou explicar, algo que se aproxima do conceito de sagrado. Daí considerar um bem ser tabu.”
Há ai um lado de razão, mostrar o tornozelo é um mundo em que o resto é mistério. Quando o tabu é desejo.
Mas há outro lado, o lado da culpa, o lado da repressão de sentimentos etc e tal. Quando o tabu é medo.
A verdade é que não há verdade nisto, nas pessoas e sentimentos não se pode fazer regras.
Vamos navegando. Às vezes com mais rochedo, às vezes com mais mar.
As pessoas, em geral, nos restaurantes, não têm cuidado nenhum. Machucam pessoas e tantas vezes com os nomes completos e às vezes até conhecemos quem está a ser machucado e não está presente.
Não Luis, não tem graça nenhuma esse tipo de pudor exactamente, como tu dizes, por esse pudor ainda ter mais peso no que se quer insinuar.
Bom vamos lá por partes 🙂
Primeiro o achar graça, era no sentido de achar curioso, e não de rir. Como quem diz, engraçado que os pinos são todos azuis e o do canto é amarelo. Ninguém se ri ao olhar para o pino amarelo.
Segundo, naquela frase há duas questões.
Uma o insultuoso que pode ser aquela frase, concordo plenamente com isso.
A segunda tem a ver com o tabu que envolve o sexo.
A pessoa emperrou ali não foi por causa de poder ser insultuoso, foi porque uma das consequências do tabu é que não há palavra adequada para todas as circustâncias e audiências.
Posso dizer a qualquer pessoa: vamos beber um copo?
Mas se disser vamos foder? Uns consideram vulgar e grosseiro.
Se disser vamos fazer amor? Outros vão achar lamechas.
Fazer sexo, parece que uma tarefa a fazer, como fazer sopa.
Copular é simplemente ridiculo.
Vamos rolar no palheiro, e que se lixe 🙂