é tarde meu amor
estou longe de ti com o tempo, diluíste-te nas veias das marés, na saliva de meu corpo sofrido
agora, tuas máquinas trituraram-me, cospem-me, interrompem o sono
habito longe, no coração vivo das areias, no cuspo límpido dos corais…
a solidão tem dias mais cruéis
tentei ser teu, amar-te e amar o falso ouro…quis ser grande e morrer contigo
enfeitar-me com as tuas luas brancas, pratear a voz em tuas águas de seda…cantar-te os gestos com ternura
mas não
habito neste país de água por engano
são-me necessárias imagens radiografias de ossos
rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã
repara
como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar
se ao entrar em casa
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
não te assustes
faca repito faca escrevo faca pelo corpo, desenho faca no peito da noite desembaraço-me do sumo inoxidável doutra faca faca sorrio faca no escuro dum beco -Hoje não matarás! |
amor repito amor escrevo amor pelo corpo, desenho amor no peito da noite desembaraço-me do sumo inoxidável doutro amor amor sorrio amor no escuro dum beco -Hoje não amarás! |