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Al Berto

ofereço-te uma laranja
tenho sempre laranjas escondidas no fundo das algibeiras
berlindes como olhos assustados de pantera, cordéis encerados
bons para estrangular
lâminas doces para abrir sinais de vida sobre a pele
e uma faca quebrada que me ajuda a recordar alguns nomes de cidade

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ferroviário

é tarde meu amor
estou longe de ti com o tempo, diluíste-te nas veias das marés, na saliva de meu corpo sofrido
agora, tuas máquinas trituraram-me, cospem-me, interrompem o sono
habito longe, no coração vivo das areias, no cuspo límpido dos corais…
a solidão tem dias mais cruéis

tentei ser teu, amar-te e amar o falso ouro…quis ser grande e morrer contigo
enfeitar-me com as tuas luas brancas, pratear a voz em tuas águas de seda…cantar-te os gestos com ternura
mas não

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o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar

Al Berto

habito neste país de água por engano
são-me necessárias imagens radiografias de ossos
rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã
repara
como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar

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diz-lhes que se consumiu

se ao entrar em casa
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
não te assustes

Lee ClaytonA Little Cocaine
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parafraseando al berto

faca

repito faca

escrevo faca pelo corpo, desenho faca no peito da noite

desembaraço-me do sumo inoxidável doutra faca

faca

sorrio faca no escuro dum beco

-Hoje não matarás!

amor

repito amor

escrevo amor pelo corpo, desenho amor no peito da noite

desembaraço-me do sumo inoxidável doutro amor

amor

sorrio amor no escuro dum beco

-Hoje não amarás!

Jan Garbarek3rd Piece (In Memory of Andrej Tarkowskij)

quando a noite é mais noite

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