mamã não contes
chove imenso, penso no zé gomes
regresso de almoço, quentinho no carro a ouvir isto
parado num sinal vejo um casal na ombreira de uma porta, cada um com uma criança pequena no braçado
penso: digo venham para aqui, saiam da chuva
de que adianta? há um restaurante ao lado, não sou melhor abrigo e não posso ficar aqui parado
o sinal muda, há gente atrás de mim tenho que seguir, buzinam, não há tempo
sinal seguinte: devia ter-me oferecido para os levar para onde fossem
que diferença faria na vida deles? que futuro terão crianças cujos pais não têm alternativa senão andar com eles à chuva?
a vida é o que é, eu sou o que sou, uma merda de sentimentos inúteis