encontros e desencontros
nos intervalos do amor não há nada
só o bolor
como pode o bolor queimar tanto como queima?
mas mesmo nas cinzas resta fogo
mesmo no fogo restas tu
nos intervalos do amor não há nada
só o bolor
como pode o bolor queimar tanto como queima?
mas mesmo nas cinzas resta fogo
mesmo no fogo restas tu
confesso que me canso
canso-me dos almoços e da falta de almoços
canso-me dos risos e da falta de riso
canso-me dos silêncios e da falta de silêncio
canso-me
até de me cansar
um ramo noutro ramo
e a voz baixinho junto ao peito
uma fatia de tecido
outra fatia de tecido. mais fina.
e finalmente a pele.
Há alturas em que devia ser obrigatório responder: Vai-te foder!
Qualquer outra coisa é estar com paninhos quentes e calar o que não faz sentido ser calado.
É como ouvir a melhor música do mundo, daquelas que nos fazem ouvir sininhos, e dizer “é gira” a encolher os ombros.
Devia haver uma lei que obrigasse a fazer-se justiça a todos os sacanas e sacanices que acontecem por aí. Quando alguém merece mesmo ser mandado à merda, há que o mandar à merda. É normal. É do mais elementar bom senso.
dá-me as tuas
só aí me reconheço
nelas não há tempo. nelas posso partir.
de sair à rua e não haver rua. Depois caminhava ao longo de rua nenhuma e os passos fugiam
abandonam-me ali
e porque haveria de haver ruas ou sítios onde há ruas?
porque há-de haver rugas e cachecóis e cabelo? O trabalho de pensar isso tudo.
Rectas. É o que há. Longas rectas que não pensam.
não sei outra maneira
Eu egocêntrico. Eu que me tenho em alguma conta. Eu que sempre tentei ser independente e não contar com o acaso para nada.
Esse mesmo eu, sozinho não é nada. Até para escrever preciso de inspiração. De alguém ou de algo. Seja um amor, um copo ou uma flor.
Para a satisfação plena do que fiz, preciso que alguém (que não eu) olhe e aprecie.
E assim que me resta? Uma dependência total e absoluta. Do amor, do copo e da flor.
E dos outros. De ti e de ti.
com as manhãs que nos recebem assim nas suas grutas frias
ou talvez estejam só tristes