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Acordo Ortográfico – O Ridículo em várias partes

Agora escreve-se Egito (sem p) e Egípcio (mantém o pêzinho). Nas cabeças pensadoras que decidem estas coisas, deve fazer sentido.

Noutros casos é à escolha do freguês, tanto se pode escrever receção como recepção. E eu a pensar que a razão de ser destes acordos tão bem pensados era para haver uma norma.

Também é interessante, mais uma vez, o secretismo que envolveu muito do processo.

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Hoje descobri duas coisas.

Sei da manipulação e da vigilância que é exercida no facebook e nas redes sociais em geral. Há que calar e não bufar.

Há pouco tempo um inglês antes de partir para a américolândia, escreveu no twitter isto: “Free this week for quick gossip/prep before I go and destroy America?”.
Quem é que não ainda não disse na brincadeira, antes de uma festa ou jogo, coisas do tipo: “bora lá, rebentar com aquilo tudo”. Claro que esse rebentar nada tem a ver com explosivos.

Ora bem, os americainoides que vigiam tudo o que agente escreve na net, apanharam o menino à saída do avião, prenderam-no e depois recambiaram-no de volta para terras de sua majestade. Para a próxima já sabe, se quer ir de férias nada de brincadeiras e muito cuidado com o que diz.

A maior parte das impressoras, e em breve todas, imprimem numa combinação de pequenos pontos o seu numero de série. Estes pontos só são visíveis com certa luz, mas estão lá. Assim os nossos policias do pensamento já podem saber quem escreveu o quê.

Primeiro nem acreditei. Privacidade e liberdade são uma e a mesma coisa. Não sou livre se tudo o que faço, escrevo ou penso for vigiado, lido e escrutinado. É a liberdade que nos estão a tirar e ninguém quer saber, porque quase ninguém sabe.

Um cidadão informado, é um cidadão perigoso porque questiona, e diz não. É mais fácil fazer sem dizer e perguntar.

Ah. A outra coisa é que no parlamento houve uma proposta para que os deputados bebessem água da torneira em vez de água engarrafada. Para evitar essa afronta, os deputados fizeram o que sabem fazer melhor: mentir e manipular números. Podiam ter dito que preferiam água engarrafada, mas isso seria ser honesto, é contra natura.

Em vez disso fizeram uma contas para concluir que beber água da torneira sairia 30 vezes mais caro que água engarrafada. Para estes cálculos complicados feitos pelos senhores inteligentes licenciados em economia, entraram 4680 euros para comprar 100 jarros. Que jarros querem os senhores deputados comprar para custar 468 euros cada um?

Entretanto o meu o pai, a mando desses mesmos senhores deputados, recebe 320 euros por mês para pagar renda, eletricidade, água, gás, alimentação, vestuário, medicamentos, etc. Não pode é comprar um jarro para a água.

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As civilizações tecnológicas são mais vulneráveis. Mas, e a gente pode viver sem tecnologia?

Não há muito tempo para ler fosse o que fosse, usava-se um suporte chamado papel. Nunca vi um papel avariar ou crashar. Nunca tive que atualizar o papel para a última versão para evitar incompatibilidades com os dedos. Nunca desapareceu ao faltar a eletricidade ou a bateria. Nunca tive que ir pesquisar no google para tentar descobrir porque é que as páginas não viravam quando as queria virar. Já deixei cair em cima de folhas tudo o que se pode imaginar, líquidos e sólidos. Dormi em cima de papeis vários, vezes sem conta. Caíram da cama, da mesa, das mãos, até de varandas. A tudo resistiu.

Graças a deus inventaram os ebooks, claramente era preciso.

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fingir que está tudo bem

O meu problema não é bem o medo do ridículo. É o de ficar sozinho a meio do deserto.
Já não sei porquê dei-me de frente com este comentário feito num blogue meu:
‘Tive este tempo todo a pensar num texto super intelectual para responder aos comentários em …’
Eu, se for eu, afasto quase toda a gente. Ou porque não sabem o que fazer ou porque me põem na caixinha dos vaidosos que gostam se dar ares de intelectuais. Deixo a alternativa para quem diz melhor que eu, o Peixoto.

fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer? olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.

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Falha grave, e para memória futura, Saramago

Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo… e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.

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