A primeira peça que vi na vida chamava-se “O primeiro” no teatro de bolso do TAS.
De bolso não era apelido, era mesmo de bolso. Só nos deixavam entrar quando convencidos que ia haver mais gente sentada que em pé no palco. Que não era bem um palco.
Há coisas na vida que nunca esquecem.
A peça começa com esta frase: É aqui que começa a fila?
E a partir daí é uma tragi-comédia em que os actores usam todos os estratagemas para passar para a frente da fila.
Mesmo hoje nem eles nem eu sabemos para que era a fila.
Queriam ser primeiros e estar á frente dos outros na fila, mesmo não sabendo para quê.
E isto sou eu. Não sei para que sirvo, nem porque faço o que faço.
Sei que sirvo para coisas, que faço mais do que posso todos os dias numa luta incessante de fazer.
Mas é para me enganar. Porque se olhar seria e friamente para o que deixo, tudo é nada.
Amanhã há um Porto-Sporting. Quero ver. É de certa forma importante para mim.
Mas na segunda feira vou ser o mesmo, e ter o mesmo dia, quer tenha havido jogo ou não.
Mas então qual a importância daquilo? Nenhuma.
Como diria o grande filosofo Pedro Ribeiro, o futebol é o momento.
E a vida também. Sem ser o momento, o resto é treta.
Pensando melhor. Tudo o que disse para trás é mentira.
O que não é treta é o que nos fica na memória.
O que não é treta, é o velhinho teatro do bolso onde vi a minha primeira peça de teatro na companhia da minha irmã.
O que não é treta, e que vale a pena, é tudo aquilo que fazemos por gosto, e 10 ou 50 anos depois nos lembramos, e dão prazer.
Venham muitos desses momentos.