Esfera
Numa esfera monocorda
um pouco de vermelho
Ternas lágrimas, flor de fruto
lentas feridas ao correr do campo
Numa esfera monocorda
um pouco de vermelho
Ternas lágrimas, flor de fruto
lentas feridas ao correr do campo
quando fazes de mim noite em pleno dia
fiquei só com uma gaivota,
deixou no terraço da parede
à minha frente
nada
e agora, como esquecer este perfume?
fingir que não vi os teus ombros, o teu andar?
maldita tu coberta de branco e de céu
vem a noite pela língua
abismo de júpiter
a rosa
acordas
olhas-me
olho-te
é tudo
quantas maneiras há para escavar o teu nome no silêncio?
como é breve a boca, de lábio a lábio
a luz contribui para a confusão. durmo
SEDE PROVISÓRIA DO IMPÉRIO ATEU, SANTA MARGARIDA
Minhas Queridas Senhoras, meus Excelentíssimos senhores, outros indivíduos dificilmente englobáveis nos dois referidos grupos, queremos desta singélica maneira, através deste simples discurso, oscular a Nossa mais basculante admiração pela personalidade genuinamente hermenêutica desta figura ímpar de quem hoje nos despedimos concomitantemente.
De facto, possuindo uma enorme penetrância nas mais variadas áreas, nem por isso deixou de servir O Império com a maior codícia e determinação sem ceder às intermitências que tentam fazer optarivar os mais lídimos Seguidores d'o Caminho.
Senhor de um refínadissimo sentido das reais concupiscências, sempre soube usar dessa qualidade entre qualidades do modo mais superfluamente encomiástico para O Nosso Bem Oscilado Império.
É pois justo concluder este curto mas viscoso discurso propedêutico, com A Nossa anímica resolução de indubitavelmente nomear o bombeado desta noite como:
- Primo: Cavaleiro de Zécristo...
- Secundo: Embaixador Ateu na Austrália...
Sem mais efusões nos subscrevemos
Zécristo, O Messias Dos Ateus, Profeta Dos Profetas, Alarve-Mor, Senhor & Criador Mental Do Universo, Supra Sumo Sacerdote Da Natureza, Protector De Todos Os Seres, Guardião Do Incontável & Impraticável, Ente Máximo & Inatingível, Terror & Delícia Do Cosmos, Mestre Da Ciência, Motor De Todos Os Fenómenos, Supervisor De Todos Os Processos, Habitante Do Todo, Mutante Imutável...
Imperador Ateu
(este draft merece ser publicado no dia hoje, razão publica: não é meu, razão verdadeira: sou osculado)
Que um cego me ensine a ver,
e um surdo a ouvir.
A falar ensino-me eu.
Não suporto que amanhã seja mais um dia. Que hoje seja um prolongamento de agora.
Vou-me abandonar à minha sorte. Acreditar no que não creio.
Vejo uma senhora de moral alevantada por oposição às tetas abandonadas
Grande é a embarcação que se dá a navegar. (Obrigado pelo barco...)
Quais os pés mais bonitos? Os atrofiados pelos sapatos ou os marcados pelo chão?
No actual contexto sócio-económico, a taxa de amizade está muito abaixo dos valores normalmente considerados satisfatórios.
Vou dizer um lugar comum. A vida é uma espiral. Tudo se repete, só que num ponto diferente.
Escrevo com o pão que comi numa garrafa partida: A Humanidade está com hemorróidas.
Se o pensamento é o meu rio, a consciência é o seu dique.
Vontade: Mosaico de anéis e pregos.
Detesto gente cuja linguagem é a do deve e do haver. Em que a vida se alinha pelas colunas do débito e do crédito. Com cinco casas decimais.
Dançando no orvalho do tempo. Estátuas perdidas.
Ouvido na barbearia: "Doer às vezes é coisa boa. É sinal de que se vive."
As máquinas não morrem e se morressem tornar-se-iam humanas. O maquinismo e a tecnologia é a busca da ilusão da imortalidade.
Desde que comprei o relógio que ando atrasado.