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Isto, meus amigos, é exaltação. Exaltação feita de cimento e lágrima.

Amou daquela vez como se fosse a última Amou daquela vez como se fosse o último Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a única Beijou sua mulher como se fosse lógico
E cada filho seu como se fosse o único E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo tímido E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse máquina Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse sábado Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se ouvisse música Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse um pássaro E flutuou no ar como se fosse sábado E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote flácido E se acabou no chão feito um pacote tímido E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Agonizou no meio do passeio público Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego Morreu na contramão atrapalhando o público Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

8 comments

  1. Se tivesse só atrapalhado o sábado, não teria sido mau. Mas atrapalhou também os outros dias da semana todos e os meses do ano e deixou atrapalhação para uma década inteira.

    Conclusão, flutuar assim no ar nunca é boa ideia, acabar no chão feito um pacote bêbado muito menos.

  2. carla, gosto de gente atrapalhada, os que sabem tudo são chatos comá potassa

    letras e numeros que não consigo dizer, vê lá tu que acabei de pôr aqui um texto lindo, e fiz a coisa com oh palavras

  3. Oh Pessoa, até tens razão, mas continuo a não gostar particularmente desta música, muito menos da letra, de tudo o que ela evoca e do momento a que, na minha humilde memória, ela se liga.

    Os que sabem tudo são uns sabões e os sabões usam-se para esfregar nódoas – se me explicares este pensamento, dou-te um sabão azul (tenho de ir tomar os comprimidos para a febre, está bom de ver).

  4. os que sabem tudo, esfregam-se nos que não sabem pouco

    ou seja os sabões esfregam-se nas nódoas

    ou seja os sabões precisam das nódoas para se cumprir
    por outro lado, as nódoas estão-se marimbando para os sabões, aliás até fogem deles

    aguardo o azul, mas sem o paulo fonseca

  5. Caramba! Essa análise das nódoas e do sabão merece, qual sabão azul qual quê, uma caixa de detergente para lavar à mão. Nova, à estreia.

    Deve ser por as nódoas se marimbarem para o sabão que lhes cai o melhor pano.

    Com um bocado de sorte, levas o azul em lápis.

  6. Não me expliquei bem, não gosto da música – não pela música em si, não porque não entenda o que a Wiki me acabou de contar, não porque não lhe reconheça mérito – tão-só não gosto do que ela me evoca, do acontecimento a que foi associada.

    Ora, eu sou muito sensível a estas coisas, para o bem ou para o menos bem.

    Também pela constatação da atrapalhação. Uma morte atrapalhou um mês inteiro e uma manhã de sexta – que chatice, havia coisas tão mais interessantes para fazer.

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