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Redoma

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Estava a almoçar e vi dois gajos a chegarem num barco pneumático. Puxaram o barco para cima enquanto caía uma chuva miudinha e as ondas lhes batiam nas pernas. Nada de especial.

De repente bateu-me. Há quanto tempo não puxo o que quer que seja para fora de água? Há quanto tempo não ando à chuva?
O homem moderno anda a meter-se numa redoma, devagar davagarinho. Cada vez nos expomos menos e fazemos menos coisas.

E não é só pela rotina e cansaço. É também pelo medo. Medo da morte, da doença, que nos aconteça qualquer coisa.

Houve tempos que para comer tinhamos que ir caçar. Mais tarde começamos a comprar os animais aos caçadores, era só matar e cozinhar. Depois passamos a comprá-los já mortos e muitas vezes já preparados. Recentemente isto só significa passar pelo hipermercercado. E já nem é preciso sair de casa, basta um telefonema e trazem-me a comida a casa. E se quiser que venha cozinhada, vem. Só falta que mastiguem. e cada vez menos fazemos menos, fechados na redoma.

E o que não que não comemos, o que não fazemos e o que não vivemos por que faz mal, é arriscado, é caro, é obsceno, é dificil.
É sempre mais fácil e seguro estar quieto. E assim nos fechamos numa redoma invisivel. Protegidos mas fechados. No fim de semana pomos na tv um filme de aventutas que nos mata a ânsia de aventura.

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