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A desinvenção do amor

O Daniel Filipe é conhecido por ter inventado o amor numa qualquer esquina da cidade. Mas não é só isso.
Nem basta, por mais que seja.

Não basta estender as mãos vazias para o corpo mutilado,
acariciar-lhe os cabelos e dizer: Bom dia, meu Amor.
Parto amanhã.

Não basta depor nos lábios inventados a frescura de um beijo
doce e leve e dizer: Fecharam-nos as portas. Mas espera.

Não basta amar a superfície cómoda, ritual, exacta nos contornos
a que a mão se afeiçoa e dizer: A morte é o caminho.

Não basta olhar a Amante como um crime ou uma injúria
e apesar disso murmurar: Somos dois e exigimos.

Não basta encher de sonhos a mala de viagem, colocar-lhe as
etiquetas e afirmar: Procuro o esquecimento.

Não basta escutar, no silêncio da noite, a estranha voz distante,
entre ruídos de música e interferências aladas.

Não basta ser feliz.

Não basta a Primavera.

Não basta a solidão.

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Dessa história do ‘partilhar’

Na sexta feira passei por um grupinho um bocado enfastiado à espera da policia para lhes desbloquear o carro.
Sei que não é politicamente correcto, e que fica mal rir-me, mas senti uma satisfação interior, tipo: uff, não sou eu.

Pouco depois tomei uma decisão. O meu próximo carro vai ser roxo. Procurar um carro cinza prata num parque de estacionamento é o mesmo que procurar uma tenda parda no campismo dum festival de verão.

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